O hall da fama dos nocauteados está sempre vazio, mas é o que guarda as melhores histórias. Página 255 do quinquagésimo terceiro caderno dos derrotados: minha história completa, em toda sua obscura glória.
O mais interessante de se ler as histórias dos perdedores é que o final nunca é importante. Dessa forma, sempre que folheio essas antigas lembranças nunca leio o último parágrafo. Carrego as histórias desses anti-heróis com a pureza da sua luta e não da decepção de seus resultados. Se puder dizer que algo aprendi, é que existe sempre muito esforço em cada derrota.
Poderia falar horas sobre essas histórias, contando as peculiaridades de cada conto, mas sei que seu tempo é curto, caro leitor, assim prefiro contar apenas a minha.
Me lembro como se fosse ontem, um dia 17 de julho, frio e úmido, sem nada de especial, foi quando aquela ideia maluca me acertou em cheio. Aquele dia mal podia imaginar que pensaria nela nos 365 dias seguintes, mal imaginava que ela se tornaria meu céu e meu inferno.
Contra tudo e contra todos levei meu plano adiante e me assustei quando comecei a notar que, apesar das mínimas probabilidades, as coisas começavam a confabular na direção que eu sonhava.
Em pouco menos de um ano eu me tornei um expert nela, sem nunca tê-la visto, tocado ou sentido. Sabia de todos os detalhes, completava as histórias dos que já tinham experimentado, como um professor que orienta seus alunos. Contudo, apesar de manter uma aparência externa confiante e descontraída, por dentro sentia lapsos de que talvez não pudesse alcançar o que almejava.
A verdade é que quando uma ideia se torna uma obsessão, ao invés de nutrir ela consome seu portador. Mesmo assim, mesmo duvidando de minhas capacidades, passei a treinar diariamente, usando todos os recursos e técnicas disponíveis. Pesquisei, questionei e interagi com tudo que aparecia em minha frente. Tracei todos os detalhes, todas as possibilidades, meu plano era infalível, com rotas redundantes em todos os seus pontos críticos. O que não era infalível ou redundante era eu.
O mais difícil de trilhar o caminho do fracasso é que você só descobre que falha no último instante. Emociono-me lembrando daquele eu confiante que por muitas vezes desfilou nesses 365 dias. Como ele acreditava que tudo seria fácil. Se por um só instante olhasse com clareza teria visto que não era normal fazer tudo aquilo por algo tão simples, mas falar do destino depois que ele se desdobra é fácil.
Mesmo assim não posso deixar de comentar sobre sua garra e coragem, como ele mergulhou em águas negras que a maioria não gosta nem de imaginar. Como seu corpo franzino aprendeu a conter e aliviar a dor de muitas situações de sofrimento sem perder o riso no rosto. Como ele se tornou íntimo do medo, quando todos o escondem repetindo para si mesmos que são imunes.
Talvez você se pergunte se eu teria desistido da ideia se soubesse no começo que não seria capaz de alcança-la, ou se iria tentar algo diferente. A resposta é: teria feito de qualquer jeito e não teria mudado nada, pois não há nada mais que pudesse ser feito. O sucesso não é apenas fruto de seu empenho, mas de uma série de causas e condições propicias que precisam estar presentes.
Talvez não fosse o momento certo. Talvez não fosse para acontecer. Muitos dirão que não importa o resultado, mas sim o caminho trilhado, que não importa vencer e sim competir, mas são justamente esses que nunca vejo folheando os cadernos do hall dos nocauteados.
O que aprendi é que o fracasso não é ruim apenas porque existe uma história bonita por trás dele, mas porque a derrota também tem muitas qualidades. Ninguém importuna os perdedores na rua, ninguém exige dos perdedores mais do que eles podem dar, assim os perdedores vivem em paz no último pelotão, aquele que nunca é despachado para a guerra.
Fracassar me fez perceber que sou comum, me fez perceber que sou vulnerável, que pertenço a algo muito, muito maior, sobre o qual não tenho controle algum. Perder é uma lição impagável de humildade.
Curioso sobre qual foi à ideia que me acertou? Deixo isso para você imaginar. Não é importante. O último parágrafo dessa história é de sua autoria, ou talvez apenas ainda não tenha sido escrito.
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