04/09/2012

Ao centro do centro

Quando vejo as fotos tiradas em Marte pelo robô da Nasa me sinto feliz e triste ao mesmo tempo. Feliz, por evoluirmos como espécie a ponto de ousar com sucesso uma missão tão difícil. Triste, por ver que as fotos não passam de pilhas de pedras avermelhadas, que pouco vão contribuir para preencher nosso sentimento mútuo de solidão.

Sem esforço me lembro quando me apaixonei por viajar. Conheci os recantos mais afastados, paradisíacos e, por vezes, inóspitos do que se chama de alma humana. Sim, porque viajar pelo mundo não requer mais do que dinheiro e um passaporte. Viajar para dentro de você, por outro lado, requer uma série de habilidades que devem ser desenvolvidas com uma prática incessante.

A primeira delas começou a ser desenvolvida quando escalava árvores de mais de 30 metros sem nenhum tipo de equipamento de escalada ou de segurança. Eu nunca escalei para provar que era capaz, ou para superar o desafio da altura. Eu escalava porque gostava de estar com as árvores. Nunca cai ou me machuquei e atribuo isso não a minha habilidade ou técnica, mas simplesmente pelo fato que eu confiava nas árvores. Confiar além da razão, esse é a primeira habilidade necessária.

A segunda eu aprendi com a meditação: observar sem interferir. Temos pouco hábito de simplesmente observar, somos educados desde pequenos a tecer comentários e opiniões sobre as coisas que chegam até nós. Observar sem interferir significa estar livre de julgamentos sobre bom ou ruim, melhor ou pior. Observar sem interferir, essa é a segunda habilidade necessária.

Por fim, a terceira habilidade, não é bem uma habilidade, é uma qualidade: determinação. Estar determinado é fundamental para seguir adiante, mesmo quando tudo fluir na direção contrária. Sem uma determinação pura ninguém pode se arriscar nos meandros da alma, se você questiona sua determinação, melhor assistir a um filme e comer pipoca; essa jornada não é sua. Determinação além das limitações, essa é a terceira habilidade.

Indo adiante sem se apegar, independente do que aconteça, esse é o caminho.

Dizem que existem duas trilhas possíveis na alma humana: a clara e a escura. Percorri as duas e digo com segurança, não existem duas trilhas distintas. Não se prova o amor, sem sentir o pavor; nem o êxtase, sem mergulhar no medo. E quando digo provar, me refiro a realmente experimentar todas as dimensões de cada pensamento, emoção e sentimento, não nossa prática diária de sentir um pouco e logo depois entulhar nossa consciência com novos estímulos.

E o que existe do outro lado do caminho que recompense tantos desafios? Nada além do que você já tem hoje, só que temperado com uma paz e uma certeza enormes. Não há libertação maior do que se reintegrar a um Cosmos que você nunca deixou, apenas acreditava que estava separado.

Nesse exato momento somos tudo que existe, sempre existiu e sempre existirá, sem nenhuma mácula.

Suas respostas não estão do lado de fora; não estão na Índia, Japão, Itália ou Estados Unidos. Também não estão em Marte ou Plutão, estão exatamente em você: vá buscá-las!

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