24/11/2008

Reflexão sobre a Percepção de Valor Intrínseco

Aquela poderia ser mais uma manhã como outra qualquer.
Eis que o sujeito desce na estação do metrô: vestindo jeans, camiseta e boné, encosta-se próximo à entrada, tira o violino da caixa e começa a tocar com entusiasmo para a multidão que passa por ali, bem na hora do rush matinal.
Mesmo assim, durante os 45 minutos em que tocou, foi praticamente ignorado pelos passantes.
Ninguém sabia, mas o músico era Joshua Bell, um dos maiores violinistas do mundo, executando peças musicais consagradas num instrumento raríssimo, um Stradivarius de 1713, estimado em mais de 3 milhões de dólares.

Alguns dias antes Bell havia tocado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custam a bagatela de 1000 dólares. A experiência, gravada em vídeo mostra homens e mulheres de andar ligeiro, copo de café na mão, celular no ouvido, crachá balançando no pescoço, indiferentes ao som do violino.



A iniciativa realizada pelo jornal The Washington Post em abril de 2007 era a de lançar um debate sobre valor, contexto e arte.
A conclusão: estamos acostumados a dar valor às coisas quando estão num contexto.
Bell era uma obra de arte sem moldura. Um artefato de luxo sem etiqueta de grife. Esse é um exemplo daquelas tantas situações que acontecem em nossas vidas que são únicas, singulares e a que não damos a menor bola porque não vêm com a etiqueta de seu preço. O que tem valor real para nós, independentemente de marcas, preços e grifes? É o que o mercado diz que você deve ter, sentir, vestir ou ser?

Essa experiência mostra como, na sociedade em que vivemos, os nossos sentimentos e a nossa apreciação de beleza são manipulados pelo mercado, pela mídia e pelas instituições que detém o poder financeiro.

Mostra-nos como estamos condicionados a nos mover quando estamos no meio do rebanho.

12/11/2008

Na vida não existe CTRL+Z

"O Banco do Brasil vai liberar R$ 4 bilhões para os bancos das montadoras financiarem a venda de automóveis."

"A Caixa Econômica Federal vai colocar R$ 2 bilhões para financiar a venda de bens de consumo como eletrodomésticos, eletrônicos, móveis, e material de construção."

Ahhhhh! Agora sim! Poxa rapaz, agora eu vou dormir tranquilão!

Fico muito mais sossegado sabendo que o lucro da Volks, da Fiat, da GM, do Ponto Frio e das Lojas Americanas não vai diminuir nesse fim de ano.

Afinal de contas a crise pode apertar e as pessoas podem ficar desempregadas, mas estarão muito mais contentes passando fome com uma TV de plasma na sala e um Gol zerinho na garagem (sem gasolina).

Desde que começou a crise eu não tinha assistido o Jornal Nacional ainda, mas hoje assisti um pedaço e me deparei com essas notícias. É impressionante como a voz séria da Fátima Bernardes quase me fez acreditar que essas medidas são para o bem da Nação.

Façamos o seguinte, vamos propor um negócio diferente.

A gente autoriza o governo a dar o nosso dinheiro, e nos endividamos em troca de bens de consumo supérfluos, em prol do bem estar das redes varejistas e indústrias automobilísticas, mas somente se essas empresas assumirem o compromisso público de abrir mão do lucro líquido de TODOS os produtos e carros vendidos nesse período e reverterem esse dinheiro para ações sociais e ambientais.

Que tal? Muito mais justo não acham?
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29/10/2008

Vai jumento!

A mente nunca sabe o que quer realmente, mas ela fica pegando no nosso pé, sempre dizendo que falta algo.

Ai você liga a TV, lê uma revista, entra em algum site e aparece aquela propaganda dizendo indiretamente que você é feio, se veste mal, tem um cabelo horrível, tá gordo, estudou pouco, enfim é um infeliz total! Tudo isso só para explorar esse aspecto incompleto da nossa mente e assim nos levar a gastar dinheiro em coisas inúteis, que só nos fazem sentir felizes durante alguns momentos e rapidamente se tornam descartáveis ou ultrapassadas.

Ontem fui fazer um treinamento em uma empresa pelo trabalho e acabei participando sem querer de uma palestra motivacional, que foi realizada na sequência.

A palestrante perguntava para as pessoas:

- O que você quer dessa vida?

E as pessoas respondiam:

- Comprar uma casa.
- Trocar de carro.
- Voltar a estudar.
- Arrumar um namorado.
- Ficar mais bonito(a).
- Casar.

Mas elas não querem realmente isso, o que elas querem é deixar de se sentirem incompletas e vazias! Quem colocou esses valores e objetos na mente dessas pessoas foi a sociedade, com a promessa de que vão resolver a insatisfação.

Não tem problema ter e querer coisas, só não podemos nos iludir imaginando que essas coisas serão a razão da nossa felicidade.

Li no jornal dias atrás sobre a alteração genética do tomate que permita que ele acumule uma substância anti-cancerígena, segundo o cientista esse seria um grande avanço, afinal:

"A maioria das pessoas não come cinco porções de frutas e legumes por
dia, mas pode se beneficiar se frutas e legumes puderem ser cultivados
com níveis mais altos de compostos ativos", disse Martin."

Pronto, já que as pessoas são incapazes de mudar a sua rotina para se alimentarem melhor, vamos desenvolver "alimentos" modificados geneticamente para serem mais nutritivos.

Genial não?

Seguindo por essa linha, vamos desenvolver máquinas mais inteligentes
para as pessoas aprenderem menos.

Carros mais confortáveis para andarem menos.

Calculadoras para calcularem menos.

Robôs para trabalharem menos.

Televisão para pensarem menos.

Ai elas serão mais felizes e saudáveis ou talvez mais estúpidas e dependentes.

E se querem que sejamos estúpidos, que benefício eles tem com nossa estupidez?
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15/10/2008

O juízo final?

Dia a dia, novidade a novidade, assim em abril desse ano passei 21 dias em 15 cidades diferentes. Todas a "trabalho".

Em uma delas, não me lembro bem qual, quando eram 10 horas da manhã aproveitei o intervalo entre o fim do trabalho e o horário de saída do ônibus para desfrutar da piscina do hotel.

Assim que cheguei notei a presença de 2 homens vestidos socialmente, com seus respectivos notebooks e celulares, sentados na sombra em uma mesa próxima.

Durante quase 1 hora na qual permaneci ali um deles não tirou o celular da orelha nem por 1 minuto!

Era um "meu querido" pra cá, "negócios" pra lá, metas de não sei onde, fulano que gerencia não sei o que, desenvolvimento do sistema, prestador, aumento de vendas e mais um monte de jargões que qualquer executivo ou empresário de sucesso deve repetir ao menos 10 vezes por dia.

Apesar de estar descansando eu me diverti ouvindo a conversa, me diverti com a falsidade, com as frases prontas, com a diferença no tom de voz quando ele falava com os clientes e quando ligava para os funcionários.

O outro homem que o acompanhava repetiu ao menos umas 3 vezes para o colega e para os funcionários do hotel: "Rapaz, muito trabalho! Ontem fui dormir às 2 da madrugada" e falava de boca cheia, orgulhoso, como se seu esforço fosse ser reconhecido pela mente comum da sociedade "nossa, que rapaz trabalhador!".

Era impossível não notar os 2 homens, eles destoavam do ambiente, no entanto a rolinha que fazia seu ninho numa palmeira num dos cantos da piscina só eu notei.

Ela subia e descia, subia e descia, repetidamente, pegando pequenos pedaços de galhos que estavam no chão e os levava para uma pequena entrada entre as folhas da palmeira, onde pacientemente construia seu lar.

Ninguém aplaudiu o esforço da rolinha, a bolsa não subiu, o dólar não sofreu nova queda e os juros não aumentaram. Ninguém reconheceu a rolinha por seus méritos e capacidades e ninguém remunerou ela pelo tempo gasto em sua atividade.

A rolinha não fazia corpo mole, nem se esforçava a mais para mostrar serviço, ela apenas fazia o que tinha de ser feito, ao contrário dos homens tomados pela ganância e poder que não cansavam de falar sobre seus lucros.

Sabe, fazem mais de 4 anos que moro em um espaço frequentado por todos os tipos de pessoas, a grande maioria mais velhas em relação a mim, por isso de certa forma aprendi a prever o futuro.

Aprendi que o juízo final não é após a morte, mas no leito de uma UTI ou na cadeira de balanço de um asilo, quando todas nossas ações e escolhas serão julgadas, não por Deus, mas por nós mesmos. E acredite, somos muito mais implacáveis!

Quantos olhares vazios e lágrimas de sofrimento vi, quando não havia mais o que ser dito além de palavras de conforto.

O ninho ficou pronto, os ovos chocaram, os filhotes cresceram e se foram. O tempo passou. E agora?

Dizem que para se ter algo nessa vida você precisa se MATAR de trabalhar. Bom, eu atualmente tenho preferido ficar vivo mesmo.

Entre uma ligação e outra o executivo da piscina ainda virou-se para mim e disse: "Poxa rapaz, estamos atrapalhando seu descando, não!".

Eu não respondei, mas pensei: "Não amigo, meu descanso é que está atrapalhando vocês".

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Circuit Breaker acionar!


Sempre que a bolsa desvaloriza mais que 10% é acionado o Circuit Breaker e os negócios são interrompidos por 30 minutos.

Esse mecanismo serve para diminuir o ritmo das perdas e também pra nego ir fumar um, dar uma mijada e voltar com a cabeça mais fresca.

Eu queria sugerir o contrário também, quando a bolsa subir mais de 10% acionem o Circuit Breaker:

- É isso aê negada! Já ganharam muita grana hoje! Vão pra casa!

Seria o mecanismo de emergência para diminuir a ganância que consome esse nosso planetinha.

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30/09/2008

Sansara Corporarion

Hoje de manhã acordei com o celular tocando:

- Bom dia senhor, o senhor gostaria de estar conhecendo os produtos da Sansara Corporation?

- Fia, eu tava dormindo, não quero porcaria nenhuma não!

- Senhor, os produtos da Sansara Corporation são imperdíveis. Provavelmente o senhor já tem muitos e nem sabe! Você nem imagina, mas a Sansara atua em muitos setores. Ontem por exemplo, a dose de vodca que o senhor tomou no Pimp´s Pub era da Sansara. Inclusive a morena que flertou com o senhor também era.

- QUEM É VOCÊ E COMO VOCÊ SABE DE TUDO ISSO?!

- Senhor, a polícia também é da Sansara Corporation.

- Mas... O que você quer?!?!?!

- Senhor, a Sansara Corporation não quer nada, o senhor é que quer algo da Sansara Corporation.

- Eu não quero nada, você que está me ligando!!!

- Senhor, foi o senhor que solicitou meu contato.

- Olha, deve ser algum engano, eu não sei quem é você, não solicitei nada e também não quero mais nada! Tchau!

- A Sansara Corporation agradece sua ligação, tenha um bom dia senhor.

Desliguei, virei a cabeça, mas não consegui dormir mais. Fiquei imaginando que diabos seria essa Sansara Corporation e como eles sabiam o que eu tinha feito na noite anterior.

- O número da bina!

O pensamento pipocou na cabeça! Deixa ver o número dessa tal Sansara.

- Menu *CLICK*
- Registro de ligações *CLICK*
- Chamadas recebidas *CLICK*

[27/9/2008   6:29   9998-6668    2 minutos]

- Ué, mas esse é o número do meu celular! Será que era um sonho?!?! - Pensei em voz alta. Não, não! Sonhos não ficam registrados na memória do celular.

Liguei de volta, deu caixa postal, era meu número mesmo. Será que me clonaram? Se eu não tivesse tomado tanta vodca ontem pelo menos ia lembrar do que aconteceu!

Junto coragem, deixo a cama (não consegui encontrar o chinelo, nem o tênis, tomara que não tenha voltado para casa descalço) e vou no banheiro jogar uma água no rosto.

O espelho me olha no fundo dos olhos e não segura o comentário:

- Tá com uma cara horrível hoje, moleque!

- Valeu...

Fome, cozinha, geladeira. Ô beleza, acabou a manteiga! Tudo bem, o pão tá duro mesmo. Vou ficar só na água, dizem que é bom pra limpar o organismo, purificar o corpo e essas coisas naturais.

Bom, deixa dar uma olhada na máquina, abrir os emails, 2 recados novos. Deve ser spam *CLICK* bom, não quero aumentar meu pênis, nem comprar viagra. Resumindo, nada novo.

- www.google.com
- "Sansara Corporation" BUSCAR *CLICK*

"Sua pesquisa - Sansara Corporation - não encontrou nenhum resultado"

Meu amigo, se não tem no google não pode ser real!

- Téééééééééeééé

Interfone a essa hora do domingo?

- Bom dia sinhô, é da portaria, chegou um pacote aqui pro sinhô. Você desce para pegar ou quer que eu suba?

- Pode deixar seu Zé, eu já desço aí.

O elevador abre as portas no décimo terceiro andar.

- Pacote para mim?

O elevador abre as portas no térreo.

- Bom dia, seu Zé, o pacote é aquele ali no hall?

- Isso mesmo, sinhô.

- Você sabe quem entregou?

- Sei não, eu fui dar uma olhada no apartamento da Dona Cidinha no 31 a torneira tava vazando no tanque e ela ligou pra dizer que não tinha ninguém e que precisava lavar umas roupas hoje urgente porque é aniversário de um sobrinho e a máquina não tava funcionando por isso ela tinha de usar o tanque então eu não vi quem entregou.

- Valeu seu Zé.

- Disponha sinhô. Desculpa eu falar assim, mas o sinhô tá com uma cara horrível hoje.

- Eu sei, o espelho já comentou.

O elevador abre as portas no décimo terceiro andar.

Que diabos de caixa é essa sem remetente nem nada! Não sei se abro esse negócio ou ligo para o esquadrão anti-bombas. Bom, tirando o álcool, não conheço nada ou ninguém mais nesse universo que tenha interesse em me matar.

- Arquivo *CLICK*
- Abrir *CLICK*

Ops, esqueci que não to no computador. Vou ter de usar aquele utensílio de corte pra romper esse lacre de fita, como é o nome mesmo? Ah! Tesoura!

10/06/2008

Um brinde!

Queria saber se todas as decisões foram verdadeiras,
se todos os sims e nãos fizeram sentido...

Sinto que com o correr dos anos perdi algo...
Algo que não sei o que é...

Então me afogo em desejos bobos, que talvez me completem...

Provavelmente desejos que me esforçarei em buscar, mas com a correta distância para nunca realizá-los de verdade...

Como a namorada da infância que não perde a beleza por ser mística,
por viver apenas numa imaginação bonita de uma tarde de verão, que vive até hoje...

Quanto passado guarda esse presente sem forma marcado com contornos sutis...
Contornos que definem dentro e fora para os olhos, mas que existencialmente não tem forma...

Tava em promoção!
Não deixe passar essa oportunidade!
Não perca mais tempo!
Essa é uma chance única!

Ah! Se vivêssemos tão intensamente como acreditamos em mentiras...

Eu te amo da boca pra fora.
Eu me amo da boca pra fora.
Eu me amo com uns quilos a menos.
Eu me amo com uns quilos a mais.

Eterna disputa de popularidade e ibope, estourando todos os recordes sem pensar nos custos.

"Os valentes usam camisa de madeira", dizem as palavras sábias...

Não pedi pra nascer, mas temo a morte...
Como se estivessemos aqui só de passagem...
Como se fossemos apenas sopros encarnados do além...
Como se fossemos apenas vozes ecoadas na escuridão de nossos pensamentos...

E a sua cabeça? Como é lá dentro? Claro? Escuro? Que cor tem seus pensamentos? São sons? São imagens? São seus?!

Sou reconhecido, logo existo...

Deixe as desculpas pra depois, a verdade é o único contento do caminhante...

Ninguém constrói sua casa sobre a ponte...
A ponte é apenas uma passagem temporária...
Assim como nosso corpo...

A alma é comum à todos, eu já peguei a minha, vá pegar a sua... a nossa!
Um brinde!

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