06/03/2007

Finais felizes...

Após tantos anos ao seu lado, difícil encontrar aquilo que posso chamar de meu “eu”. Aquele “eu” que caminha com seus próprios passos.
Minha história se mescla na sua de tal forma que sozinho sinto não mais viver esta realidade, como se de uma hora para outra minhas referências tivessem sido removidas sem avisos ou alertas.

E lá se foi um pedacinho de mim...

Um empurrão inesperado para um poço sem fundo. Debato-me, tentando aprender a nadar em rápidas lições para não morrer afogado.

Exausto entrego meu corpo e meus esforços, apenas para ter a agradável surpresa que a corrente generosamente me conduz sem pressa.

Bobagem minha acreditar que por algum momento pudesse realmente estar sozinho, como se os pés pudessem caminhar sem o suporte do chão e os pulmões se encherem sem o oxigênio do ar.

Nesse emaranhado onde tudo se interliga, mesmo separados continuamos juntos, sempre juntos, desde o princípio até a extinção de mãos dadas.

Minhas carências são as justificativas para criticar seu comportamento? Não, mas foi isso que fiz durante muito tempo, terceirizando meu sentimento de dor.

Tantos caminhos pelos quais seguir, tantas portas disponíveis e nem mesmo tenho segurança para aceitar essa nova liberdade.

Mesmo assim me motivo mentalmente a aceitar o novo desafio, concordo, sejamos fortes dessa vez! Buscar o passado novamente só vai criar falsas esperanças, prazeres momentâneos de uma felicidade superficial.

Tudo que começa termina, terminou, não há mais necessidade de tentar voltar no tempo para reviver instantes mágicos que não voltam.

Coloco o fardo no chão, dessa vez de verdade, e a corrente conduz novamente o fluxo, como sempre fez, eu que me esqueci.

Levantei muros que chamei de casa e cercas que chamei de segurança. Limitando meus domínios completamente, como se a Terra pudesse ser realmente demarcada.

Agora percebo que quantos mais processos, conceitos e rótulos adiciono a mim, mas me torno vulnerável, tendo de assumir a árdua tarefa de defender o que não me pertence. Dessa forma me mantenho sempre a mercê das coisas e pessoas que me incomodam.

Se não houver mais em que apoiar, o que pode me atingir? Quem restará lá para ser atingido?

As árvores tombam perante os ventos e tempestades, como se não fossem nada mais do que galhos secos, enquanto a grama apenas balança de um lado para o outro, dançando com a situação.

E eis meu segredo, descoberto sob duras penas.

Sem um objetivo pelo qual seguir, todo caminho é o caminho correto.

Sem um eu pelo qual lutar, toda morte é bem-vinda.

Sem divisões ou intervalos, me faço em tudo e tudo se faz em mim.

Sem começos especiais, ou finais felizes, apenas o que é.

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