19/03/2007

Para onde vão as nuvens brancas?

Toda criança já brincou um dia de olhar para o céu e ver formas nas nuvens...

"Olha! Um coelho!"
"Aquela outra parece uma caveira."
"Nossa! Essa aqui parece a frente de um barco!"

Formas e nomes que representam coisas, objetos concretos ou emoções abstratas, conceitos discutidos ou teorias elaboradas, mas independente do formato que possuem, as nuvens são apenas nuvens e tem seu papel no processo natural do planeta.

Mas e se as nuvens de repente, de uma hora para outra, começassem a pensar e a ter consciência de si mesmas? Como em um desenho animado onde as coisas inanimadas ganham uma personalidade.

Na mente da nuvem que parecia uma caveira surgirá uma referência de caveira: "Eu sou uma caveira". Da mesma forma nas outras nuvens, cada qual com sua forma e nome particular.

Nesse momento talvez você se pergunte: "Onde diabos ele quer chegar com esse texto maluco?!" Calma!

Imagine então que as nuvens comecem a se sentir solitárias: "eu sou uma caveira e não vejo nada ao redor que se assemelhe a mim". Muito provavelmente as nuvens que se assemelhassem a uma caveira passariam a se agrupar, talvez até criassem uma associação para lutar por seus direitos e para discutir quais reformas são necessárias ao céu, para que as nuvens caveiras tenham melhores condições de vida.

Muito provavelmente também o medo de perder sua forma atual de caveira existiria, afinal o vento continua soprando, assim nossa amiga nuvem com forma de caveira acabou de criar nascimento e morte em sua recém pensante cabeça.

Com nascimento e morte surge à vontade de se buscar algo, algo que talvez possa diminuir esse sofrimento perante a efemeridade de sua breve existência.

Sim! As nuvens agora precisam de algo para justificar sua existência! Não apenas justificar sua existência, como também respostas para suas indagações mais profundas: "Dá onde viemos, para onde vamos e qual o motivo disso tudo?".

As nuvens com forma de psicólogo provavelmente iriam auxiliar as nuvens com formato de dúvida, as nuvens formato de polícia combateriam as nuvens com formato de bandido e as nuvens com formato de político iriam prometer ajudar as nuvens com formato de povo.

E assim surgiriam as guerras, os combates, a fome, a concentração de riquezas, a pobreza, os direitos, a cidadania, os países, as fronteiras, os sonhos e os pesadelos.

E muito provavelmente as nuvens esqueceriam totalmente que sua essência é formada pelo mesmo elemento e que precisam chover para realizar o processo pelo qual foram criadas.

Após alguns anos a Terra estaria seca e o céu completamente nublado, a temperatura subiria tanto que não haveriam mais condições para as nuvens existirem como nuvens. A vida complexa que antes existia regrediria para uma vida simples, de poucos elementos e interações.

Essa seria a extinção das nuvens, até o momento em que em algum outro lugar, tempo e espaço de nossa infinita existência surjam condições favoráveis à evolução da vida para formas mais dinâmicas novamente.

Sem apego ou desapego, sem condenar ou justificar, apenas um relato direto, sem tomar partido, sem escolher qual nuvem está correta e qual está errada.

Gostaria apenas que as nuvens pudessem voltar a se conhecer pelo que são e não pelo que acreditam.

Somente isso é necessário...

Coragem nuvens, coragem!

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