10/06/2010

Filhote de Dragão

"Tenho muito medo", disse a borboleta com lágrimas nos olhos, antes de fechar-se novamente em seu casulo de seda.

Mal sabia que ela, pequenina assim, ousava voos mais altos do que qualquer outra de sua espécie já havia ao menos sonhado.

Pouco antes de sua não fácil decisão era comum ouvir nos corredores sussurros sobre sua atitude:

"Tadinha, deve ter enlouquecido". Diziam alguns.

"É só uma fase, vai passar". Diziam outros.

"Tenho tanto medo que ela sofra". Profetizava a mãe.

Porém, nada seria capaz de demovê-la de seu nobre objetivo. Afinal não era sua culpa ter nascido alma tão grande em um corpo tão frágil.

Quando ela finalmente emergiu de seu sono profundo eu não estava presente, ninguém estava. Seu nascimento foi testemunhado apenas pela vida, que gentilmente cuidou de sua gestação.

Sua nova forma era tão grande, mas tão grande que seus semelhantes nem mesmo eram capazes de enxergá-la. Sua vontade tão grande, mas tão grande, que o Sol as vezes atrasava um pouco sua ida, apenas para contemplá-la por mais alguns segundos.

Não mais cabendo nos mesmos moldes seu corpo fundiu-se com o próprio céu. Agora do bater de suas asas formam-se tornados e da leveza de seu voo os mais belos fins de tarde.

Até hoje quando chove costumo caminhar até o jardim, apenas para dizer:
"Não chore tanto pequena borboletinha, seus receios são libertadores".

09/06/2010

Embabaqueci!

Desculpem-me.

Não sei se nessas situações um pedido de desculpas seria justificável, mas não custa nada pedir.

Algumas semanas atrás coloquei no Facebook a seguinte frase: "a cada aula me sinto mais e mais ignorante" (apenas para situar os visitantes, esse ano voltei a estudar formalmente no ambiente acadêmico).

Posso dizer que tenho aprendido muito sobre o que não preciso para minha vida como ser humano, mas muito do que preciso para minha vida que paga as contas no fim do mês.

Voltar a estudar depois de quase 7 anos me fez reencontrar formas de pensar que não usava mais. Me fez relembrar sobre como se estrutura um pensamento, como se usa a lógica, como se embasa um argumento e é claro que transportei isso para outros assuntos da minha vida; justamente aqueles que falo nessa página.

Por isso mesmo, reforço o pedido de desculpas aos amigos antigos, que tem reclamado do eu novo, que não é mais tão sagaz ou sarcástico como outros tempos. Peço desculpas pela falta de criticismo e liberação, talvez eu mesmo esteja preso no momento.

Nesse processo de emburrecimento inteligente, vou juntando conhecimento e mergulhando na ignorância, condecorado com notas suficientes para a aprovação trimestral. Sorrio na saída da máquina de produção de executores de tarefas e pensadores pós-modernos em merda alguma.

Para concluir cito um grande mestre, quando perguntado sobre sua formação: "se tivesse estudado, seria um imbecil" (Marley, 1980).

02/04/2010

Explode coração!

Não sei se foi o remédio para a garganta, o analgésico para febre, o álcool da cerveja, ou a união dos três que me deram uma experiência bem intensa e confortante ontem pela noite.

Coloquei a cabeça no travesseiro para dormir quando senti o coração acelerado e palpitante. Definitivamente fora do normal. Peguei o relógio e contei as pulsações: 120 por minuto em total repouso.

Olhei para o lado, vi a mulher dormindo e pensei: vou acorda-lá, preciso ir pro hospital. Acontece que por essas coisas da vida, no dia seguinte ela teria uma importante entrevista de emprego, logo o babaca aqui não queria estragar o repouso da linda.

Fui para a sala, meditei, relaxei, assisti TV e depois de uma hora o ritmo cardíaco ainda continuava na mesma. Sem sair de casa eu sentia que tinha corrido uma maratona!

Lembrei de meu irmão, quando ele também passou por uma experiência semelhante. Fechei os olhos, aprofundei a respiração e depois de alguns minutos notei que a pulsação caiu. Medi novamente e agora estava próximo a 100. Já era alguma coisa.

Fui então me deitar às 4 horas da madrugada, o peito dolorido, a cabeça acessa e um cansaço profundo. Foi quando fechei os olhos que senti uma probabilidade enorme de não acordar no dia seguinte. Que viagem.

Mas viagem mesmo foi a falta de medo. Uma coisa é o machão que bate no peito e grita que não tem medo da morte, sentado confortavelmente na poltrona de sua sala. Outra coisa é não sentir medo naqueles momentos que a morte chega pertinho e você sente até o seu bafo.

Mais um renascimento pra lista, to ficando bom nisso! Azar de vocês que ainda terão de ler essas porcarias durante algum tempo. Ou não.

12/12/2009

A cortina antes do público



Sozinho em frente a cortina preta, espero a contagem regressiva para entrar no palco e anunciar o espetáculo para o público presente.

E se eu falhar? E se as palavras não sairem? Que fracasso! Fazer ridículo na frente de uma multidão!

Admito que não sabia o que iria dizer, mas também confesso que estava calmo. No caminho até a cortina passei pelas pessoas, que nervosas aguardavam a hora de entrar para apresentar o que ensairam durante um ano inteiro. Pensei em como poderia apoiá-las, em como fazer o discurso inicial, que daria o tom da noite.

Assim o grito vindo do escuro deu a ordem:

- Vai!!!

E eu fui para dentro do Coliseu encarar os leões. E rugi mais alto que as feras!

Depois comentaram:

"Você estava nervoso, né? Eu vi sua mão tremendo"

Tremeu mesmo! Mas não era de nervoso, não. Eu estava no 220V! =)



"Tolo é quem confia sempre; tolo é quem continua confiando, contrariamente ao que recomendam todas as suas experiências vividas. Você o engana, e ele confia em você; você o engana de novo, e ele continua confiando; você o engana mais uma vez, e ele ainda confia em você. Então você dirá que ele é um tolo, que não aprende. A confiança dele é enorme; é uma confiança tão pura que ninguém consegue corrompê-la.

Seja um tolo no sentido taoísta, no sentido do Zen. Não tente criar uma muralha de conhecimentos em torno de você. Seja qual for a experiência que venha a você, deixe-a acontecer e depois siga em frente, descartando-se dela. Vá limpando sua mente o tempo todo; vá morrendo para o passado, de forma a permanecer no presente, no aqui-agora, como se tivesse acabado de nascer, como se fosse um bebê.

No começo isso será muito difícil. O mundo começará a tirar vantagem de você... deixe que o façam. São uns pobres companheiros. Ainda que trapaceiem com você, que o enganem e roubem, deixe acontecer, porque aquilo que é realmente seu não pode ser roubado, o que realmente lhe pertence ninguém pode tirar de você. E a cada vez que você não permitir que as circunstâncias o corrompam, a oportunidade se transformará em um efeito de integração dentro de você. A sua alma se tornará mais cristalizada."


Mãos em prece...

09/12/2009

O Inquilino do andar de cima


Será o sucesso apenas resultado da engenhosidade e da astúcia?

Será que conheço a trilha certa? O caminho parece tão longo e cheio de neblina.

Caminhando sobre os mortos, em quantos corpos terei pisado? Desses, quantos escolheram a bifurcação errada? Ficando enclausurados no medo e na cobiça?

O desprazer de insistir no erro, quando o certo é tão óbvio, porém tão ralo.

Escurece...

A fria luz de presença desperta com meus passos, a mesma calorosa recepção de sempre. Entre o portão e a porta todo o Universo. Resplandecente Cosmos que acima passa despercebido.

Ali, singelo e despretensioso o Infinito compartilha o andar de cima da minha humilde morada.

Ah se não tivesse a companhia sua, meu silencioso vizinho, que sem graça seria essa rotina: tela do PC, tela da TV, tela do celular.

Egoísmo meu acreditar um dia que esse romance era só entre nós. Essa arrogância de desconsiderar a jabuticabeira carregada em frutos, o abacate em flor, o caminho dourado de flores na entrada e a cachorra pulando de barro na camisa branca.

Palavras de um rapaz jovem, inexperiente e sem estudo, que da próxima vez que nascer velho, tentará vir com barba grisalha e rugas no rosto.

01/10/2009

Bom dia, flor do dia!

Às vezes intencionalmente eu deixo de meditar durante algum tempo. Esse último período foi de quase três meses, três meses de total abstinência.

É interessante ver como a mente indomada se debate e engole água até mesmo nos mares mais calmos. Como o simples fica difícil e as situações se transformam em novelas mexicanas intermináveis e cheias de causos dramáticos e aparentemente sem solução...

Mas ai a meditação volta, e com ela breves minutos diários de silêncio, como gotas homeopáticas de paz, que se bem administradas tornam o dia a dia extremamente prazeroso e tranquilo.

Quando o capitão assume seu posto, o barco, por menor que seja, navega firme mesmo quando enfrenta as maiores tormentas.

Nesses curtos períodos de meditação reencontro Deus em sua essência, como se fosse um velho amigo. Ah! Que sentimento é esse que preenche esse corpo, que já não mais é corpo e sim Universo! Que sentimento indescritível é esse quando o coração de Deus se funde ao seu.

Sem metáforas, sem passagens, sem versículos, sem entonações e sem filosofias. De coração a coração, num único pulsar eterno.

É quando estou nesse "lugar", sem drogas, viagens, isolamento ou eucaristia. Quando estou nesse lugar de forma simples, como quando o cachorro do vizinho late, ou o carteiro passa assoviando para entregar a correspondência, é que me recordo o que é estar em casa.

Essa é a nossa casa, somente ela é a verdadeira, e a porta sempre esteve aberta, na verdade a porta nem existe, o portal não tem portões.

Talvez por isso minha risada tenha sido tão sincera naquele dia, quando o chefe de um trabalho que atualmente participo entoava rispidamente as normas corporativas que devem ser prontamente atendidas.

"Desculpe a risada, é que você parecia o Roberto Justus falando", foi o que eu disse quando ele me questionou o motivo de meu bom humor.

Perdoe-me, mas como poderia ser diferente? Quando as coisas que a sociedade me oferece são tão pequenas? Quando as cobranças que a sociedade me faz são tão superficiais?

Sim! Me mande embora! Me prenda! Me mate! E dai? Nossa verdadeira casa está sempre lá, fortificada sobre a mais alta montanha, apenas aguardando o retorno do Imperador. O Imperador que habita dentro de cada um de nós.

Enfim, acho que é isso...

Um dia eu quero poder ensinar isso tudo a vocês, mas por enquanto ainda estou aprendendo. =)

...mãos em prece...

29/06/2009

Seu Palhaço! :o)

Ontem foi minha primeira saída de palhaço...

Foi no Parque da Água Branca, junto com mais uns 30 palhaços, para comemorar os 80 anos do parque.

Na última aula antes desse "batizado", a professora do curso disse:

"- Você se sente seguro pra sair amanhã? Eu nunca soltei um palhaço com tão pouco tempo de curso. Você sabe, não é obrigatório, se você não quiser."

E eu respondi:
"- Se alguém me pedir pra fazer alguma graça, eu digo que não sei ainda, porque sou só estagiário."

E a saída aconteceu. Umas dessas experiências únicas da vida.

Eu era o palhaço vestido de empresário: meio capitalista, meio mafioso. Com minha pasta de executivo, meu sapato engraxado, meu terno elegante e minha cara de bunda.

Logo no começo uma senhora, quando me viu, disse:
"Nossa! Que sério!"

Nessa hora um outro palhaço virou-se pra mim e disse:
"E palhaço não pode ser sério? Quem aqui tá brincando?". E foi embora.

Eu tava sério como palhaço. Como o funcionário obrigado a fazer o curso, porque o chefe mandou. A preencher o relatório, porque o chefe mandou, A sorrir, quando quer mandar se foder, porque o chefe mandou.

Mas depois o clima ficou mais ameno, mais espontâneo, mais natural e eu também relaxei. Percebi que o palhaço é livre, porque pode fazer qualquer coisa. Afinal, quem se importa? É só um palhaço.

Percebi também que quanto mais eu mergulhava no momento, menos minha mente queria controlar a situação, controlar quem eu era, o que eu podia fazer, como eu devia agir e reagir. Percebi que quanto mais fundo existe a entrega à não-mente, mais forte é Sua manifestação no Todo. Sem fazer nada, tudo acontecendo.

Foi isso.

Ficou interessado? Fica com o meu cartão:


PS: Sim, eu imprimi isso e distribui lá.