Lembro-me de quando sentava a noite sobre o parapeito da janela e ficava contemplando as nuvens correndo o céu no horizonte.
Não eram noites frias, nem quentes, mas com vento forte, que balançava generosamente as copas das árvores.
Foram muitas e muitas noites passadas assim.
Era como se algo me atraísse algo ainda misterioso e natural.
Por vezes imaginava como deveria ser a Terra antes dos homens e da civilização, o silêncio, o equilíbrio, à ausência da marcação do tempo; não existiam horas, dias ou anos, não existiam metas ou objetivos, não havia nem mesmo evolução. Não que as coisas não evoluíam, elas evoluíam, mas não havia ninguém para registrar e catalogar a evolução. Os grandes e pequenos eventos aconteciam e não havia jornais, noticiários ou emails para contar os ocorridos.
De certa forma era isso que eu vivia novamente naqueles momentos, como se por algum tempo pudesse fugir da ansiedade e da rotina que nos ocupam 24 horas por dia.
A natureza ainda viva do lado de fora da janela, chamava pela natureza adormecida dentro de mim.
Difícil falar sobre naturalidade hoje em dia, quando até mesmo os que não tiveram acesso aos estudos de alguma forma já ouviram falar de planejamento, hoje em dia pouca coisa sai do papel antes de ser minimamente pensada, planejar é uma profissão, uma necessidade. Avaliar os riscos, os investimentos, montar um projeto, estabelecer metas, reuniões e mais reuniões, discussões em busca de resultados sólidos e estáveis.
Mas de alguma forma as galáxias aprenderam a girar, a matéria a se agregar, os átomos a tomarem vida e a vida a pensar e não há planejamento algum em tudo isso. Muito menos metas a serem alcançadas, Deus não precisa de títulos ou recordes e assim a criação se cria a cada instante, tão perfeita como a teia de uma aranha ou um cacho de bananas.
O ar que circula no ar condicionado ainda é ar, o medalhão ao vinho branco ainda é comida e a água gaseificada com um toque de limão ainda é água.
Tudo é simples quando somos simples e tudo é complexo quando somos complexos.
É por isso que mesmo no mundo atômico-globalizado-capitalista-contemporâneo podemos viver naturalmente.
A natureza não é uma praia paradisíca deserta, ou uma cachoeira escondida em mata fechada, a natureza é o que nos compõe e nos faz existir, a natureza é tudo de nós.
Deixe-a assumir o controle e poderá viver despreocupado com o mundo, assim como vive despreocupado com o bater de seu coração.
Deixe a sociedade assumir o controle e viverá como o aquecimento global imperialista geopolítico macro econômico da jurisprudência do senado 2.0 travas elétricas 120m2 mais de 20 opções de lazer HDTV wifi bluetooth com a menor taxa de juros e prestações do mercado 7.2 megapixel e HD 80gb dual core, ufa!
Mãos em prece
17/12/2007
05/11/2007
Ecos do Além
No mesmo dia no hospital além do texto anterior este aqui também estava digitado no celular, confesso que quando o li lá pelas 16:00hs fiquei com lágrimas nos olhos.
Segue publicado na íntegra, sem modificações, edições ou correções.
____
Cortei minhas pernas, agora ando livre, perdi meus braços por isso a tudo alcanço, entreguei meu corpo ao mar e em oceano cheguei aos 4 cantos do Universo.
Meu canto é mais alto que o explodir das galáxias, mas ninguém o escuta.
Minha luz ilumina milhares de Sois e Luas, mas poucos a enxergam.
Quando piso meus pés não tocam ao chão, nem minha cabeça ficou perdida nas estrelas.
Meu tombar é ouvido a milhares de milhas de distância e minhas preces ouvidas como o soprar do vento pelas frestas do silêncio.
Minhas mãos não tem mais força do que parecem ter, no entanto tocam a todo o Universo.
Ao expirar galáxias são extintas e ao inspirar Universos se aglomeram.
De meu leito de morte vejo a luz do nascimento, do único Nascimento, no grande ventre da vida.
Agora sei que os golpes que acertam a superfície não causam mais do que simples arranhões, enquanto a Verdade toca a tudo no mais profundo ser, como uma pequena nascente que brotando da montanha escorre pela superfície da pedra.
Meus olhos a tudo assistem, mesmo minha visão sendo única, observo a tudo sem interferir, mas confesso que com aperto no peito aguardo pelo retorno de minhas filhas e filhos ao nosso Paraíso comum.
Dizem que a verdade é para poucos, mas isso é mentira, a verdade é para todos, assim como o Sol nasce no oeste e se põe ao leste.
Entregue-se ao abismo e será salvo, agarre-se firme a borda e sua presença sucumbirá.
Os médicos podem tratar, mas a verdadeira cura só é alcançada além de saúde e doença; a moribundos nos hospitais mais sãos do que muitos saudáveis por aí.
Feche os olhos ao que o homem lhe oferece, pois seu veneno camuflado de verdade é perigoso, ainda assim não perca tempo combatendo a mentira, o nascer do Sol é suficiente para iluminar a escuridão.
Ainda ontem dizia que tudo não passava de um sonho, janeiro ou dezembro são apenas nomes, o tempo é tão infinito quanto a própria vida, não se intimide com o fracasso, nem comemore demais a vitória, há mendigos que morrem de forma mais nobre do que generais.
Pois eis que desse corpo toma posse, pois a mim nada pertence.
A mim...
A mim quem?
Segue publicado na íntegra, sem modificações, edições ou correções.
____
Cortei minhas pernas, agora ando livre, perdi meus braços por isso a tudo alcanço, entreguei meu corpo ao mar e em oceano cheguei aos 4 cantos do Universo.
Meu canto é mais alto que o explodir das galáxias, mas ninguém o escuta.
Minha luz ilumina milhares de Sois e Luas, mas poucos a enxergam.
Quando piso meus pés não tocam ao chão, nem minha cabeça ficou perdida nas estrelas.
Meu tombar é ouvido a milhares de milhas de distância e minhas preces ouvidas como o soprar do vento pelas frestas do silêncio.
Minhas mãos não tem mais força do que parecem ter, no entanto tocam a todo o Universo.
Ao expirar galáxias são extintas e ao inspirar Universos se aglomeram.
De meu leito de morte vejo a luz do nascimento, do único Nascimento, no grande ventre da vida.
Agora sei que os golpes que acertam a superfície não causam mais do que simples arranhões, enquanto a Verdade toca a tudo no mais profundo ser, como uma pequena nascente que brotando da montanha escorre pela superfície da pedra.
Meus olhos a tudo assistem, mesmo minha visão sendo única, observo a tudo sem interferir, mas confesso que com aperto no peito aguardo pelo retorno de minhas filhas e filhos ao nosso Paraíso comum.
Dizem que a verdade é para poucos, mas isso é mentira, a verdade é para todos, assim como o Sol nasce no oeste e se põe ao leste.
Entregue-se ao abismo e será salvo, agarre-se firme a borda e sua presença sucumbirá.
Os médicos podem tratar, mas a verdadeira cura só é alcançada além de saúde e doença; a moribundos nos hospitais mais sãos do que muitos saudáveis por aí.
Feche os olhos ao que o homem lhe oferece, pois seu veneno camuflado de verdade é perigoso, ainda assim não perca tempo combatendo a mentira, o nascer do Sol é suficiente para iluminar a escuridão.
Ainda ontem dizia que tudo não passava de um sonho, janeiro ou dezembro são apenas nomes, o tempo é tão infinito quanto a própria vida, não se intimide com o fracasso, nem comemore demais a vitória, há mendigos que morrem de forma mais nobre do que generais.
Pois eis que desse corpo toma posse, pois a mim nada pertence.
A mim...
A mim quem?
29/10/2007
Vozes do além
Sexta-feira passada, dia 26 de outubro, acordei às 14:00 horas no leito de um hospital.
Não sabia o que fazia ali, nem quem me vestira, foi quando descobri que havia tomado um soco durante o treino na academia de manhã e estava com amnésia temporária.
Lá pelas 16:00 horas foi quando percebi que havia um texto digitado em meu bloco de notas do celular, é nesse bloco de notas do celular que escrevo 99% dos textos que publico aqui no blog.
O texto havia sido escrito pouco antes das 11:00 horas da manhã, da própria sexta-feira.
Sim, eu o escrevi, não lembro quando, nem como, só sei que foi durante algum momento em que estive na maca do pronto socorro.
Para minha surpresa o texto é repetitivo, tem erros de gramática e pontuação, mas isso é perfeitamente compreensível, já que foi redigido por um cérebro fora de suas funções normais.
Mais interessante ainda foi perceber que usei palavras e formas gramaticais diferentes das quais costumo usar normalmente, era a própria consciência, além de corpos e formas, manifestando-se através das ferramentas que tinha na ocasião.
Compartilho com vocês, mãos em prece!
___
Deitado na cama, o soro ligado a veia, nada na mente além de um flash de momentos, realidade e irrealidade intimamente ligados.
Não me recordo do que ocorreu, apenas flashs passam pela cabeça, a nítida sensação de viver um sonho.
Quem me trouxe, onde estou, imagens vagas, flashs de uma realidade.
Em um segundo sou apenas um corpo sobre a cama, o soro ligado na veia, as ligações na memória do celular de números que não me recordo.
Vozes...
Vozes do lado de fora, estranhos, vozes do lado de dentro, irreais?
Na veia o soro é injetado, na agenda compromissos anotados de deveres que temporariamente desconheço.
Olho em volta as coisas voltam a fazer sentido, que loucura estou na cama de um hospital, o soro na veia, as vozes distantes.
Aguardo, aguardam a tomografia do paciente, eu, preocupações.
Na sala de espera de minha mente as coisas voltam a fazer sentido.
Para onde teria ido esse sentido antes?
A roupa no corpo não me traz recordações, acordei, me vesti, sai de casa, mas para onde?
No leito do hospital o soro traz de volta a lucidez, mas o que aconteceu? Como vim até aqui?
Fome...
A confusão é mais aparente no rosto dos que no dos outros, lindo saber que na hora de ir um momento veio a cabeça.
Daqui nada se leva...
Com uma pancada na cabeça o todo caiu, chego aqui como o vento, sem saber de onde vim,nem para onde.
Assim como todos nós.
A diferença é que a maioria de nós acredita que está em algum lugar.
Não estamos, somos este lugar.
Não há medo, nem confusão, apenas vagas memorias.
Com um soco as pernas se dobraram e a mente pulou do barco. Ela só aparece quando existe uma vaga idéia de realidade, quando algo acontece ela desaparece, como um fantasma no acender das luzes.
E é ela que a maioria de nós busca satisfazer. Esqueça, na hora do vamos ver ela o deixará na mão.
O médico vem e me olha nos olhos, tudo bem, ele se vai, o soro na veia, retomo a consciência, conhecimento de onde estou e não de quem me preenche.
A lucidez volta, estou de volta ao mundo dos homens, gostaria que os homens pudessem estar naquele outro mundo, que nos circunda e nos preenche.
Não me recordo do que aconteceu, nem de como vim parar aqui, apenas flashs.
Não há problema, já estive aqui uma vez, nos corredores de um hospital, a diferença é que não a mais medo.
Os recados na agenda perderam o sentido, acredito que as pessoas estejam preocupadas, o médico deixa a sala, devo permanecer em observação durante 24 horas, a tomografia está normal, mas segundo ele tive uma concussão cerebral e devo permanecer em observação.
Não me recordo dos últimos acontecimentos, não sei que dia é hoje, não sei quem me colocou essa roupa, não sei como cheguei aqui, mas algo em mim até mesmo aqui, no canto esquecido do hospital, permanece vivo.
Os fatos sumiram da memória, não me lembro ao certo onde estava ou o que fiz, não sei mais que dia é hoje, mas estou feliz, calmo, confiante.
Lúcido ou transtornado, estamos todos o tempo todo mas mãos de Deus, de Buda, da Existência.
As memórias me confundem, mas tua presença me preenche.
O impacto no crânio causa uma temporária perda de memória, o impacto no corpo causa uma temporária perda de vida.
Hoje sinto plenamente sua presença, do leito de uma cama de hospital.
Flashs passam pela cabeça, o que aconteceu, quanto tempo se passou, mas uma certeza ainda me preenche.
Sou eternamente grato a Tua presença, pois as pernas podem se dobrar, a cabeça pode esquecer, mas Tua companhia a TUDO preenche!
Olhando agora os registros no celular, não me recordo do ano, da data, do que fiz essa semana, esse mês, pouco me lembro sobre minhas coisas e tarefas.
Mal me recordo o que comi, quando comi, não sei ao certo se estamos no começo ou no fim do ano, mas ainda assim sinto Sua presença, reluzente presença.
Que dia é hoje? O que comi de manhã? O que são esses recados na minha agenda que me parecem não mais fazer sentido.
Estou acostumado a viver assim sem referências, a vida não possui placas ou sinalizações, o que comi pela manhã, o que fiz ontem, a que horas acordei, nada me vem a cabeça, apenas Tua presença.
Se todos pudessem compartilhar também dessa certeza, os rostos nos hospitais não teriam a mesma expressão perdida no vazio do não conhecer o amanhã.
Assim solto e livre de rótulos e obrigações, pode-se mergulhar no vazio do dia a dia sem medo do hoje ou amanhã.
Não há vazo que nos contenha, nem liberdade que nos confime.
Estar livre é estar livre de se preocupar com o que somos, para onde vamos, ou porque estamos aqui.
Deus bate e derruba a si mesmo constantemente, no corredor sobre a maca, os médicos passam, mas apesar de muito estudarem não conhecem a verdadeira cura, aquela através da qual o corpo tomba, mas algo permanece, a memória falha, mas a vida se manifesta.
O braço que desfere o soco é do mesmo corpo que recebe o golpe, somos todos um só corpo.
As expressões de pesar e preocupação pouco tem a ver com a situação, o que realmente assusta as pessoas é o desconhecer do amanhã.
Não se preocupe, o coração de Deus ocupa todos os lugares, o peso de suas preocupações são nada diante de sua eterna presença.
Os joelhos dobram, os olhos fraquejam, o corpo sucumbi a brutalidade do impacto, mas a verdade não sucumbi.
No quarto ao fundo da sala de espera do hospital, o doente aguarda por alta, mal sabem os médicos que por trás daqueles inocentes olhos azuis está a verdadeira cura, aquela que nem mesmo na morte sucumbi.
Que possamos todos nos livrar da ignorância de que está existência é breve e passageira.
Não há golpe mais poderoso em toda existência, o soco da vida noucatei a si mesmo, o guerreiro tomba, mas a inocência permanece resplandecente, é dessa forma que o guerreiro cai, mas a virgem permanece pura e livre de qualquer ameaça.
Mãos em prece...
E da sala de espera do hospital, diante do desconhecido, lágrimas de felicidade, agora mais do que nunca sei que o que levanta não pode ser derrubado, o corpo cai, mas não ninguém ali para ser nocauteado.
A memória falha, a percepção falha, o corpo falha, mas a Verdade permanece.
E que Verdade!
Não sabia o que fazia ali, nem quem me vestira, foi quando descobri que havia tomado um soco durante o treino na academia de manhã e estava com amnésia temporária.
Lá pelas 16:00 horas foi quando percebi que havia um texto digitado em meu bloco de notas do celular, é nesse bloco de notas do celular que escrevo 99% dos textos que publico aqui no blog.
O texto havia sido escrito pouco antes das 11:00 horas da manhã, da própria sexta-feira.
Sim, eu o escrevi, não lembro quando, nem como, só sei que foi durante algum momento em que estive na maca do pronto socorro.
Para minha surpresa o texto é repetitivo, tem erros de gramática e pontuação, mas isso é perfeitamente compreensível, já que foi redigido por um cérebro fora de suas funções normais.
Mais interessante ainda foi perceber que usei palavras e formas gramaticais diferentes das quais costumo usar normalmente, era a própria consciência, além de corpos e formas, manifestando-se através das ferramentas que tinha na ocasião.
Compartilho com vocês, mãos em prece!
___
Deitado na cama, o soro ligado a veia, nada na mente além de um flash de momentos, realidade e irrealidade intimamente ligados.
Não me recordo do que ocorreu, apenas flashs passam pela cabeça, a nítida sensação de viver um sonho.
Quem me trouxe, onde estou, imagens vagas, flashs de uma realidade.
Em um segundo sou apenas um corpo sobre a cama, o soro ligado na veia, as ligações na memória do celular de números que não me recordo.
Vozes...
Vozes do lado de fora, estranhos, vozes do lado de dentro, irreais?
Na veia o soro é injetado, na agenda compromissos anotados de deveres que temporariamente desconheço.
Olho em volta as coisas voltam a fazer sentido, que loucura estou na cama de um hospital, o soro na veia, as vozes distantes.
Aguardo, aguardam a tomografia do paciente, eu, preocupações.
Na sala de espera de minha mente as coisas voltam a fazer sentido.
Para onde teria ido esse sentido antes?
A roupa no corpo não me traz recordações, acordei, me vesti, sai de casa, mas para onde?
No leito do hospital o soro traz de volta a lucidez, mas o que aconteceu? Como vim até aqui?
Fome...
A confusão é mais aparente no rosto dos que no dos outros, lindo saber que na hora de ir um momento veio a cabeça.
Daqui nada se leva...
Com uma pancada na cabeça o todo caiu, chego aqui como o vento, sem saber de onde vim,nem para onde.
Assim como todos nós.
A diferença é que a maioria de nós acredita que está em algum lugar.
Não estamos, somos este lugar.
Não há medo, nem confusão, apenas vagas memorias.
Com um soco as pernas se dobraram e a mente pulou do barco. Ela só aparece quando existe uma vaga idéia de realidade, quando algo acontece ela desaparece, como um fantasma no acender das luzes.
E é ela que a maioria de nós busca satisfazer. Esqueça, na hora do vamos ver ela o deixará na mão.
O médico vem e me olha nos olhos, tudo bem, ele se vai, o soro na veia, retomo a consciência, conhecimento de onde estou e não de quem me preenche.
A lucidez volta, estou de volta ao mundo dos homens, gostaria que os homens pudessem estar naquele outro mundo, que nos circunda e nos preenche.
Não me recordo do que aconteceu, nem de como vim parar aqui, apenas flashs.
Não há problema, já estive aqui uma vez, nos corredores de um hospital, a diferença é que não a mais medo.
Os recados na agenda perderam o sentido, acredito que as pessoas estejam preocupadas, o médico deixa a sala, devo permanecer em observação durante 24 horas, a tomografia está normal, mas segundo ele tive uma concussão cerebral e devo permanecer em observação.
Não me recordo dos últimos acontecimentos, não sei que dia é hoje, não sei quem me colocou essa roupa, não sei como cheguei aqui, mas algo em mim até mesmo aqui, no canto esquecido do hospital, permanece vivo.
Os fatos sumiram da memória, não me lembro ao certo onde estava ou o que fiz, não sei mais que dia é hoje, mas estou feliz, calmo, confiante.
Lúcido ou transtornado, estamos todos o tempo todo mas mãos de Deus, de Buda, da Existência.
As memórias me confundem, mas tua presença me preenche.
O impacto no crânio causa uma temporária perda de memória, o impacto no corpo causa uma temporária perda de vida.
Hoje sinto plenamente sua presença, do leito de uma cama de hospital.
Flashs passam pela cabeça, o que aconteceu, quanto tempo se passou, mas uma certeza ainda me preenche.
Sou eternamente grato a Tua presença, pois as pernas podem se dobrar, a cabeça pode esquecer, mas Tua companhia a TUDO preenche!
Olhando agora os registros no celular, não me recordo do ano, da data, do que fiz essa semana, esse mês, pouco me lembro sobre minhas coisas e tarefas.
Mal me recordo o que comi, quando comi, não sei ao certo se estamos no começo ou no fim do ano, mas ainda assim sinto Sua presença, reluzente presença.
Que dia é hoje? O que comi de manhã? O que são esses recados na minha agenda que me parecem não mais fazer sentido.
Estou acostumado a viver assim sem referências, a vida não possui placas ou sinalizações, o que comi pela manhã, o que fiz ontem, a que horas acordei, nada me vem a cabeça, apenas Tua presença.
Se todos pudessem compartilhar também dessa certeza, os rostos nos hospitais não teriam a mesma expressão perdida no vazio do não conhecer o amanhã.
Assim solto e livre de rótulos e obrigações, pode-se mergulhar no vazio do dia a dia sem medo do hoje ou amanhã.
Não há vazo que nos contenha, nem liberdade que nos confime.
Estar livre é estar livre de se preocupar com o que somos, para onde vamos, ou porque estamos aqui.
Deus bate e derruba a si mesmo constantemente, no corredor sobre a maca, os médicos passam, mas apesar de muito estudarem não conhecem a verdadeira cura, aquela através da qual o corpo tomba, mas algo permanece, a memória falha, mas a vida se manifesta.
O braço que desfere o soco é do mesmo corpo que recebe o golpe, somos todos um só corpo.
As expressões de pesar e preocupação pouco tem a ver com a situação, o que realmente assusta as pessoas é o desconhecer do amanhã.
Não se preocupe, o coração de Deus ocupa todos os lugares, o peso de suas preocupações são nada diante de sua eterna presença.
Os joelhos dobram, os olhos fraquejam, o corpo sucumbi a brutalidade do impacto, mas a verdade não sucumbi.
No quarto ao fundo da sala de espera do hospital, o doente aguarda por alta, mal sabem os médicos que por trás daqueles inocentes olhos azuis está a verdadeira cura, aquela que nem mesmo na morte sucumbi.
Que possamos todos nos livrar da ignorância de que está existência é breve e passageira.
Não há golpe mais poderoso em toda existência, o soco da vida noucatei a si mesmo, o guerreiro tomba, mas a inocência permanece resplandecente, é dessa forma que o guerreiro cai, mas a virgem permanece pura e livre de qualquer ameaça.
Mãos em prece...
E da sala de espera do hospital, diante do desconhecido, lágrimas de felicidade, agora mais do que nunca sei que o que levanta não pode ser derrubado, o corpo cai, mas não ninguém ali para ser nocauteado.
A memória falha, a percepção falha, o corpo falha, mas a Verdade permanece.
E que Verdade!
25/09/2007
A Lei de Não-Murphy
"A probabilidade da mente perceber o erro é diretamente oposta a sua capacidade de reconhecer o acerto"
A mancha redonda de tomate salta aos olhos numa camiseta branca, assim como as letras pretas na tela são interpretadas pelo cérebro ao mesmo tempo que o fundo branco é ignorado.
A mente possui uma habilidade inata de focar o que destoa do restante.
Uma peça de roupa 99% limpa, na verdade está suja!
Infinitos acertos precedem um erro, mas eles não são considerados, ou seja, para ocorrer uma falha, muitos outros processos aconteceram perfeitamente.
Portanto acreditar que algo passível de dar errado dará, subtende uma enorme simplificação de uma realidade muito maior e perfeita.
Perfeita onde erros e acertos fazem parte da perfeição, afinal que perfeição absoluta seria essa se fosse imperfeita a ponto de não conter imperfeições?!
Conceitos a parte, esse mecanismo se aplica em nossa vida quando focamos apenas os problemas que nos cercam e esquecemos todas as outras coisas que estão funcionando perfeitamente para que esses problemas sejam realmente problemas.
Por isso que dizem que a gente só sente falta quando perde.
Não perca a oportunidade, perca a mania de achar que tudo está errado.
A mancha redonda de tomate salta aos olhos numa camiseta branca, assim como as letras pretas na tela são interpretadas pelo cérebro ao mesmo tempo que o fundo branco é ignorado.
A mente possui uma habilidade inata de focar o que destoa do restante.
Uma peça de roupa 99% limpa, na verdade está suja!
Infinitos acertos precedem um erro, mas eles não são considerados, ou seja, para ocorrer uma falha, muitos outros processos aconteceram perfeitamente.
Portanto acreditar que algo passível de dar errado dará, subtende uma enorme simplificação de uma realidade muito maior e perfeita.
Perfeita onde erros e acertos fazem parte da perfeição, afinal que perfeição absoluta seria essa se fosse imperfeita a ponto de não conter imperfeições?!
Conceitos a parte, esse mecanismo se aplica em nossa vida quando focamos apenas os problemas que nos cercam e esquecemos todas as outras coisas que estão funcionando perfeitamente para que esses problemas sejam realmente problemas.
Por isso que dizem que a gente só sente falta quando perde.
Não perca a oportunidade, perca a mania de achar que tudo está errado.
06/07/2007
Como dizem, o remédio é amargo.
Foi sem querer que encontrei aquele pacote ali no canto esquecido do quarto, alguém deve tê-lo jogado pela janela e ele caiu num lugar escondido.
Apesar de misterioso não levou nem alguns segundos para descobrir sua origem, afinal era um pacote de balas e doces com a embalagem escrita em chinês.
Confesso que fiquei muito emocionado, gostaria de poder agradecer a pessoa por trás de tão carinhoso presente, mas era tarde demais, pela manhã ela tinha viajado para bem longe, sem dizer quando voltaria ou se voltaria.
Faz quase um ano que a conheci (puxa, um ano! Como passou rápido!) ela era uma senhora chinesa de 84 anos que permaneceu na casa alugada para qual eu havia me mudado.
Parece estranho, realmente é, o filho mudou-se para Manaus, mas ela não quis ir, por isso ficou acertado que ela poderia continuar morando na edícula no fundo do terreno.
Foi ela quem me deu o nome de Johnny, porque segundo ela, meu nome em português era muito difícil de pronunciar.
Foi uma relação à primeira vista, ela me adotou como neto e eu a adotei como vó. Eu era o único que a chamava de vovó.
Quantas vezes lembro-me de chegar cansado e ela ainda me oferecer algo quentinho para comer, enquanto aproveitava para me ensinar um pouco de chinês.
Lembro-me de um dia que ela chorava e chorava sozinha no banheiro, a nora havia sido rude com ela pelo telefone. Eu tentei acalmá-la, mas ela não conseguia parar de dizer o quanto se sentia injustiçada, eu apenas disse que ela não precisava se preocupar porque os olhos de Buda viam tudo. Ela abriu um sorriso e me abraçou.
Nesse último mês, entretanto se falei com ela mais de uma vez foi muito. Realmente estou trabalhando bastante, saindo cedo e chegando tarde, mas confesso que por vezes escolhi evitá-la.
Não foi algo planejado, foi apenas um sentimento que tinha de não querer vê-la.
Esse sentimento nasceu de algumas situações e conflitos que nasceram entre ela e algumas pessoas que frequentam a casa, mas nada contra mim, não havia real justificativa, minha mente dizia "deixe de ser frio, é uma senhora, sua vó, vá falar com ela ao menos por educação.", mas eu não ia.
E foi hoje à noite, pouco antes de escrever esse texto que entendi a raiz desse sentimento.
Sim, antes de você terminar de ler e achar que sou um monstro, não se esqueça que a um ensinamento nisso tudo.
Com 84 anos minha quelida vovó (como eu a chamava!) já estava cansada e sentindo o peso da idade, sua cabeça falhava e a memória a deixava na mão, não apenas eu, mas outras pessoas começaram a perceber que ela estava no início do Mal de Alzheimer.
Panelas deixadas no fogo, memórias antigas trazidas à tona como acontecimentos do dia, histórias recentes do marido que faleceu a mais de 10 anos e outros acontecimentos que não necessitam ser apresentados.
E como é comum dessa doença, ela não tinha consciência dos problemas.
Por muitas vezes sugerimos que ela visse com os filhos a possibilidade de contratar uma companhia, mas todas as tentativas foram em vão, segundo eles era um custo muito alto e não havia recurso financeiro suficiente. Pão duros!
Sem a alternativa de uma companhia a segurança de vovó e de nós estava ameaçada, um gás esquecido aberto e a casa iria pelos ares.
Já não bastasse isso, seu corpo também tivera sido muito castigado por uma pneumonia que quase a levou desse plano. Para ela pequenas caminhadas até a feira ou a farmácia se transformavam em árduas jornadas.
Não restava outra alternativa para ela a não ser mudar-se para Manaus para ficar novamente sob os cuidados do filho, mas essa era uma decisão que ela não tomaria, ela disse que NUNCA iria a Manaus, não queria deixar para trás a vida e os amigos que aqui tinha.
Porém a minha "frieza" no último mês, juntamente com uma "bronca" que um funcionário da casa a deu (e com justificativa!) fizeram com que ela se sentisse sozinha, solitária ao o ponto de repensar uma viagem para Manaus.
E assim ela partiu, com o coração um pouco triste, mas com a segurança de ter alguém para lhe cuidar e vigiar.
Entendo agora meu sentimento e como ele colaborou numa esfera maior para fazer o que era certo e necessário.
Fique com Deus minha quelida vovó, sabia que nunca lhe quis mal e que sou eternamente grato por tudo que me ofereceu. Muito obrigado, te amo.
Reverência...
Apesar de misterioso não levou nem alguns segundos para descobrir sua origem, afinal era um pacote de balas e doces com a embalagem escrita em chinês.
Confesso que fiquei muito emocionado, gostaria de poder agradecer a pessoa por trás de tão carinhoso presente, mas era tarde demais, pela manhã ela tinha viajado para bem longe, sem dizer quando voltaria ou se voltaria.
Faz quase um ano que a conheci (puxa, um ano! Como passou rápido!) ela era uma senhora chinesa de 84 anos que permaneceu na casa alugada para qual eu havia me mudado.
Parece estranho, realmente é, o filho mudou-se para Manaus, mas ela não quis ir, por isso ficou acertado que ela poderia continuar morando na edícula no fundo do terreno.
Foi ela quem me deu o nome de Johnny, porque segundo ela, meu nome em português era muito difícil de pronunciar.
Foi uma relação à primeira vista, ela me adotou como neto e eu a adotei como vó. Eu era o único que a chamava de vovó.
Quantas vezes lembro-me de chegar cansado e ela ainda me oferecer algo quentinho para comer, enquanto aproveitava para me ensinar um pouco de chinês.
Lembro-me de um dia que ela chorava e chorava sozinha no banheiro, a nora havia sido rude com ela pelo telefone. Eu tentei acalmá-la, mas ela não conseguia parar de dizer o quanto se sentia injustiçada, eu apenas disse que ela não precisava se preocupar porque os olhos de Buda viam tudo. Ela abriu um sorriso e me abraçou.
Nesse último mês, entretanto se falei com ela mais de uma vez foi muito. Realmente estou trabalhando bastante, saindo cedo e chegando tarde, mas confesso que por vezes escolhi evitá-la.
Não foi algo planejado, foi apenas um sentimento que tinha de não querer vê-la.
Esse sentimento nasceu de algumas situações e conflitos que nasceram entre ela e algumas pessoas que frequentam a casa, mas nada contra mim, não havia real justificativa, minha mente dizia "deixe de ser frio, é uma senhora, sua vó, vá falar com ela ao menos por educação.", mas eu não ia.
E foi hoje à noite, pouco antes de escrever esse texto que entendi a raiz desse sentimento.
Sim, antes de você terminar de ler e achar que sou um monstro, não se esqueça que a um ensinamento nisso tudo.
Com 84 anos minha quelida vovó (como eu a chamava!) já estava cansada e sentindo o peso da idade, sua cabeça falhava e a memória a deixava na mão, não apenas eu, mas outras pessoas começaram a perceber que ela estava no início do Mal de Alzheimer.
Panelas deixadas no fogo, memórias antigas trazidas à tona como acontecimentos do dia, histórias recentes do marido que faleceu a mais de 10 anos e outros acontecimentos que não necessitam ser apresentados.
E como é comum dessa doença, ela não tinha consciência dos problemas.
Por muitas vezes sugerimos que ela visse com os filhos a possibilidade de contratar uma companhia, mas todas as tentativas foram em vão, segundo eles era um custo muito alto e não havia recurso financeiro suficiente. Pão duros!
Sem a alternativa de uma companhia a segurança de vovó e de nós estava ameaçada, um gás esquecido aberto e a casa iria pelos ares.
Já não bastasse isso, seu corpo também tivera sido muito castigado por uma pneumonia que quase a levou desse plano. Para ela pequenas caminhadas até a feira ou a farmácia se transformavam em árduas jornadas.
Não restava outra alternativa para ela a não ser mudar-se para Manaus para ficar novamente sob os cuidados do filho, mas essa era uma decisão que ela não tomaria, ela disse que NUNCA iria a Manaus, não queria deixar para trás a vida e os amigos que aqui tinha.
Porém a minha "frieza" no último mês, juntamente com uma "bronca" que um funcionário da casa a deu (e com justificativa!) fizeram com que ela se sentisse sozinha, solitária ao o ponto de repensar uma viagem para Manaus.
E assim ela partiu, com o coração um pouco triste, mas com a segurança de ter alguém para lhe cuidar e vigiar.
Entendo agora meu sentimento e como ele colaborou numa esfera maior para fazer o que era certo e necessário.
Fique com Deus minha quelida vovó, sabia que nunca lhe quis mal e que sou eternamente grato por tudo que me ofereceu. Muito obrigado, te amo.
Reverência...
04/07/2007
Amém!
Hoje pela manhã enquanto tomava um rápido café da manhã antes de correr para o trabalho, uma cena espetacular (ou poderia chamar de milagre?) aconteceu!
O pão era do dia passado, mas ainda estava fresco o suficiente para ser comido "in natura" (sem necessidade de um processo de aquecimento em forno ou frigideira).
Ao lado um pote de margarina Qualy (Qualy aliás é só o nome, porque o que tem ali dentro nem Deus sabe), que já estava praticamente terminado, mas que ainda oferecia alguma coisa.
Após rápidas passadas com a faca considerei que já tinha margarina suficiente e então (deixando de lado a faca obviamente) peguei a fatia para direcioná-la a boca.
Foi ai que um dos acidentes culinários mais indesejáveis estava prestes a ocorrer... A fatia de pão lambuzada com Qualy decidiu enfrentar uma jornada contra a gravidade e rumava de encontro ao chão!
Nesse momento a mente para! Diante de mim um filme de toda minha vida passou, e algumas imagens da margarina melecando o chão e um porção de cabelos e outras coisas estranhas grudadas no pão me vieram imediatamente a cabeça.
Era o fim do café da manhã e um temível início para uma quarta-feira atribulada!
Porém, contrariando toda a física Newtoniana, toda a relatividade de Einstein e ainda mais impressionantemente, a lei de Murphy, eis que no último instante a beirada externa da fatia de pão encontra a beirada externa do meu tênis e num giro de 180 graus perfeito o pão aterriza com a margarina para cima!!!
Nesse momento me ajoelhei e rezei um pai nosso a todo pulmão, pois estava diante de um milagre, uma intervenção Divina!
Tá bom, tá bom, não precisa exagerar, mas que foi um milagre, ah isso foi!
E como a mão de Deus me tocou hoje, decidi expandir o milagre e colocar uma postagem nova aqui no blog.
Prometo que antes do feriado haverá outra!
Uau!
O pão era do dia passado, mas ainda estava fresco o suficiente para ser comido "in natura" (sem necessidade de um processo de aquecimento em forno ou frigideira).
Ao lado um pote de margarina Qualy (Qualy aliás é só o nome, porque o que tem ali dentro nem Deus sabe), que já estava praticamente terminado, mas que ainda oferecia alguma coisa.
Após rápidas passadas com a faca considerei que já tinha margarina suficiente e então (deixando de lado a faca obviamente) peguei a fatia para direcioná-la a boca.
Foi ai que um dos acidentes culinários mais indesejáveis estava prestes a ocorrer... A fatia de pão lambuzada com Qualy decidiu enfrentar uma jornada contra a gravidade e rumava de encontro ao chão!
Nesse momento a mente para! Diante de mim um filme de toda minha vida passou, e algumas imagens da margarina melecando o chão e um porção de cabelos e outras coisas estranhas grudadas no pão me vieram imediatamente a cabeça.
Era o fim do café da manhã e um temível início para uma quarta-feira atribulada!
Porém, contrariando toda a física Newtoniana, toda a relatividade de Einstein e ainda mais impressionantemente, a lei de Murphy, eis que no último instante a beirada externa da fatia de pão encontra a beirada externa do meu tênis e num giro de 180 graus perfeito o pão aterriza com a margarina para cima!!!
Nesse momento me ajoelhei e rezei um pai nosso a todo pulmão, pois estava diante de um milagre, uma intervenção Divina!
Tá bom, tá bom, não precisa exagerar, mas que foi um milagre, ah isso foi!
E como a mão de Deus me tocou hoje, decidi expandir o milagre e colocar uma postagem nova aqui no blog.
Prometo que antes do feriado haverá outra!
Uau!
11/05/2007
Pssssssiu!
Como uma brisa de verão o sopro passou.
Estatelado na cama, desfruto o silêncio que se firma.
À deriva como uma onda, a mãe oceano cuidou das feridas.
Quem diria que a ruptura seria a própria ruptura e que no túnel no fim da luz no fim do túnel estaria Ele próprio esperando.
Sorriso no rosto e cara marota, de moleque que acabou de aprontar.
Capítulos sem fim da história que nunca termina, vivendo continuamente o sexto dia da criação.
Criatura e Criador em um só corpoespíritoalma.
Vêm comigo! Que eu to indo com você!
Estatelado na cama, desfruto o silêncio que se firma.
À deriva como uma onda, a mãe oceano cuidou das feridas.
Quem diria que a ruptura seria a própria ruptura e que no túnel no fim da luz no fim do túnel estaria Ele próprio esperando.
Sorriso no rosto e cara marota, de moleque que acabou de aprontar.
Capítulos sem fim da história que nunca termina, vivendo continuamente o sexto dia da criação.
Criatura e Criador em um só corpoespíritoalma.
Vêm comigo! Que eu to indo com você!
29/04/2007
Pelas frestas da Babilônia
Em uma sociedade que enaltece a posse e o acúmulo de bens materiais, como o reconhecimento máximo de sucesso e felicidade, como podemos culpar as pessoas por buscar, lutar, mentir e roubar em nome do dinheiro?
Quando você precisa pensar em como manter seu padrão de vida, sua moradia, em como sua vida será melhor quando você conseguir tudo que sonha e deseja. Quem sabe um sítio nas montanhas com o sossego da natureza, ou uma casa própria, o carro quitado, o príncipe encantado, a mulher perfeita, os filhos perfeitos, o emprego perfeito e um pé de meia para na velhice descansar os ossos cansados.
Todos pensamentos esses que eventualmente preenchem a cabeça de todo ser humano contemporâneo, contribuindo dessa forma para tomar um pouco de tempo de nossas vidas.
Podemos chamar esses de grandes ideais, aqueles para se refletir nos fins de tarde de domingo, ou nas segundas de manhã, sozinho no carro ou no ônibus rumo a mais um dia de trabalho.
Porém, se já não bastassem essas reflexões, ainda existem os chamados "sonhos de consumo", que levam um pouco mais de nosso tempo, ao desfilarem pela cabeça. O carro do ano, celular com câmera, computador de bolso, computador de mão, computador de dedo, notebook e provavelmente mais uma porção de outros produtos e serviços para todos os tipos de pessoas e classes sociais. Produtos e serviços que provavelmente não existiam há alguns anos ou décadas atrás, mas que agora são aparentemente indispensáveis.
Junte a esses pensamentos a insatisfação e o stress do dia a dia, coloque uma pitada grande de acontecimentos, escândalos e tragédias e pronto, sua cabeça estará terminantemente a serviço do "sistema".
Não o sistema condenado pelos comunistas, nem aquele citado nas aulas de geopolítica, mas o sistema sem terminologias ou conceitos, que é alimentado e nutrido por nós mesmos, através dos julgamentos e mecanismos da vida social.
Por vida social entendo: "a repressão dos instintos para manifestação dos bons tratos sociais".
E é assim, dessa forma aparentemente comum, que TODOS seus anos serão gastos como um camelo, arrastando-se pelo deserto, reclamando das interpéres e anestesiado com miragens de oásis belos e luxuosos, perdidos logo à frente na interminável paisagem de areia. Ou pedra.
Alguns ainda despertam para isso, mas gastam toda sua energia e tempo em tomar o partido contrário de reclamar e condenar a situação vigente, mas sem nunca abandonar a caravana.
E assim o "sistema" se retro alimenta pelas duas pontas! Sutil e onipresente, justo e fiel, seguindo o know how daquilo que o homem entende por divino.
Toda sua criatividade, inocência e bondade se vão, deixados para trás em nome da "sobrevivência".
Cabe a cada um refletir o que é necessário abrir mão para seguir o caminho do sucesso.
Por favor, não me julguem como um anarquista, esse texto não é uma crítica, é uma constatação. Não vejo necessidade em condenar ou exaltar as evidências, confio plenamente em sua capacidade de discernimento.
E você? Acredita?
Quando você precisa pensar em como manter seu padrão de vida, sua moradia, em como sua vida será melhor quando você conseguir tudo que sonha e deseja. Quem sabe um sítio nas montanhas com o sossego da natureza, ou uma casa própria, o carro quitado, o príncipe encantado, a mulher perfeita, os filhos perfeitos, o emprego perfeito e um pé de meia para na velhice descansar os ossos cansados.
Todos pensamentos esses que eventualmente preenchem a cabeça de todo ser humano contemporâneo, contribuindo dessa forma para tomar um pouco de tempo de nossas vidas.
Podemos chamar esses de grandes ideais, aqueles para se refletir nos fins de tarde de domingo, ou nas segundas de manhã, sozinho no carro ou no ônibus rumo a mais um dia de trabalho.
Porém, se já não bastassem essas reflexões, ainda existem os chamados "sonhos de consumo", que levam um pouco mais de nosso tempo, ao desfilarem pela cabeça. O carro do ano, celular com câmera, computador de bolso, computador de mão, computador de dedo, notebook e provavelmente mais uma porção de outros produtos e serviços para todos os tipos de pessoas e classes sociais. Produtos e serviços que provavelmente não existiam há alguns anos ou décadas atrás, mas que agora são aparentemente indispensáveis.
Junte a esses pensamentos a insatisfação e o stress do dia a dia, coloque uma pitada grande de acontecimentos, escândalos e tragédias e pronto, sua cabeça estará terminantemente a serviço do "sistema".
Não o sistema condenado pelos comunistas, nem aquele citado nas aulas de geopolítica, mas o sistema sem terminologias ou conceitos, que é alimentado e nutrido por nós mesmos, através dos julgamentos e mecanismos da vida social.
Por vida social entendo: "a repressão dos instintos para manifestação dos bons tratos sociais".
E é assim, dessa forma aparentemente comum, que TODOS seus anos serão gastos como um camelo, arrastando-se pelo deserto, reclamando das interpéres e anestesiado com miragens de oásis belos e luxuosos, perdidos logo à frente na interminável paisagem de areia. Ou pedra.
Alguns ainda despertam para isso, mas gastam toda sua energia e tempo em tomar o partido contrário de reclamar e condenar a situação vigente, mas sem nunca abandonar a caravana.
E assim o "sistema" se retro alimenta pelas duas pontas! Sutil e onipresente, justo e fiel, seguindo o know how daquilo que o homem entende por divino.
Toda sua criatividade, inocência e bondade se vão, deixados para trás em nome da "sobrevivência".
Cabe a cada um refletir o que é necessário abrir mão para seguir o caminho do sucesso.
Por favor, não me julguem como um anarquista, esse texto não é uma crítica, é uma constatação. Não vejo necessidade em condenar ou exaltar as evidências, confio plenamente em sua capacidade de discernimento.
E você? Acredita?
24/04/2007
Somos todos chuva
Uma nuvem se aproxima e anuncia a todos os seres vivos:
- Preparem-se para serem abençoados!!
Desatentos eles olham para o céu e abrem seus guarda-chuvas para não se molhar.
A chuva cai, escorregam as gotas através de seu tecido, caem no chão e não encontram a Terra.
As gotas dizem: bebam-me!
E os seres entram em seus carros para não pisarem nas poças d'água.
Mas as crianças....ah...as crianças....essas saem na rua e se deixam abençoar e pisam nas poças d´água, e abrem suas bocas elevando-as a altura dos céus para beberem a água!
E a maioria das mães esbraveja: sai já da chuva!
Que pena...elas também têm guarda-chuvas!
De que vale a chuva?
De que vale a vida?
De que vale o amor?
Senão para serem agradecidos e recebidos de corpo, alma e coração aberto?
Minha Deusa....o que estamos fazendo com nossas vidas? Dentro de nossos próprios corpos nos escondemos de você! Você está dentro de nós....e nós somos todos um só...somos você e VOCÊ É A CHUVA!
Fisiologicamente tenho apenas um irmão, mas a vida, generosa como é, me presenteou com muitos outros irmãos e irmãs, esse texto foi escrito por uma delas, uma das especiais!
- Preparem-se para serem abençoados!!
Desatentos eles olham para o céu e abrem seus guarda-chuvas para não se molhar.
A chuva cai, escorregam as gotas através de seu tecido, caem no chão e não encontram a Terra.
As gotas dizem: bebam-me!
E os seres entram em seus carros para não pisarem nas poças d'água.
Mas as crianças....ah...as crianças....essas saem na rua e se deixam abençoar e pisam nas poças d´água, e abrem suas bocas elevando-as a altura dos céus para beberem a água!
E a maioria das mães esbraveja: sai já da chuva!
Que pena...elas também têm guarda-chuvas!
De que vale a chuva?
De que vale a vida?
De que vale o amor?
Senão para serem agradecidos e recebidos de corpo, alma e coração aberto?
Minha Deusa....o que estamos fazendo com nossas vidas? Dentro de nossos próprios corpos nos escondemos de você! Você está dentro de nós....e nós somos todos um só...somos você e VOCÊ É A CHUVA!
__
Fisiologicamente tenho apenas um irmão, mas a vida, generosa como é, me presenteou com muitos outros irmãos e irmãs, esse texto foi escrito por uma delas, uma das especiais!
20/04/2007
Silently words
"...my words are cheap, but my heart is full of love.
When the door to the enemy is closed, the friend can´t enter either.
Sound and silence walk together, side by side.
Dive deep into silence, to the point where nothing can disturb you, even the most cheap words..."
"...minhas palavras são baratas, mas meu coração está repleto de amor.
Quando a porta para o inimigo está fechada, o amigo não pode entrar tampouco.
Som e silêncio caminham juntos, lado a lado.
Mergulhe fundo no silêncio, até o ponto em que nada pode perturbá-lo, nem mesmo as mais baratas palavras..."
When the door to the enemy is closed, the friend can´t enter either.
Sound and silence walk together, side by side.
Dive deep into silence, to the point where nothing can disturb you, even the most cheap words..."
"...minhas palavras são baratas, mas meu coração está repleto de amor.
Quando a porta para o inimigo está fechada, o amigo não pode entrar tampouco.
Som e silêncio caminham juntos, lado a lado.
Mergulhe fundo no silêncio, até o ponto em que nada pode perturbá-lo, nem mesmo as mais baratas palavras..."
15/04/2007
O Sol não dá marcha ré
"O Sol não dá marcha ré!"
Foi isso que um amigo me disse na última sexta-feira, quando resolveu discursar sobre minha vida pessoal.
Na medida que ele falava e falava eu permanecia em silêncio, apenas observando onde a mente é capaz de nos levar.
Foi assim que ele continuou:
"...porque você ainda não está pronto para tomar certas decisões..."
"...sinto que falta uma convicção interna em você..."
"...fico feliz que você esteja vivendo essas situações, para perceber que a vida não é igual ao computador, onde você simplesmente apaga as coisas que não gosta..."
"...outro dia perguntaram a um conhecido sobre o porquê dele estar feliz e ele respondeu: porque hoje acordei e percebi que meus olhos enxergavam..."
E com essa frase ele terminou:
"PENSE NISSO!"
Confesso que na sexta-feira essas palavras me incomodaram um pouco, mas depois de deixar a mente assentar percebi que refletiam pouco sobre mim e muito mais sobre os próprios reflexos que ele trazia de si mesmo.
No sábado algumas palavras me vieram em resposta, aproveito para compartilhar com vocês:
"O Sol não se move para frente, nem para trás,
É a Terra que gira ao seu redor.
Vagueando confortavelmente à deriva,
Não há maturidade a se buscar para tomar decisões,
Nem decisões a serem tomadas.
Claramente os sinais se apresentam.
Seguindo o fluxo, o fluxo segue você.
Firmemente convicto o bambu se curva ao vento.
Da arrogância não nascem flores,
nem da bondade grilhões.
Pela manhã me levantei e vi que estava cego.
Agradeci aos céus e tomei meu caminho.
Os olhos que enxergam para fora,
contemplam apenas o próprio umbigo.
O delete da vida real existe, lhe prometo.
Pensar enlouquece...
Pense nisso!"
Foi isso que um amigo me disse na última sexta-feira, quando resolveu discursar sobre minha vida pessoal.
Na medida que ele falava e falava eu permanecia em silêncio, apenas observando onde a mente é capaz de nos levar.
Foi assim que ele continuou:
"...porque você ainda não está pronto para tomar certas decisões..."
"...sinto que falta uma convicção interna em você..."
"...fico feliz que você esteja vivendo essas situações, para perceber que a vida não é igual ao computador, onde você simplesmente apaga as coisas que não gosta..."
"...outro dia perguntaram a um conhecido sobre o porquê dele estar feliz e ele respondeu: porque hoje acordei e percebi que meus olhos enxergavam..."
E com essa frase ele terminou:
"PENSE NISSO!"
Confesso que na sexta-feira essas palavras me incomodaram um pouco, mas depois de deixar a mente assentar percebi que refletiam pouco sobre mim e muito mais sobre os próprios reflexos que ele trazia de si mesmo.
No sábado algumas palavras me vieram em resposta, aproveito para compartilhar com vocês:
"O Sol não se move para frente, nem para trás,
É a Terra que gira ao seu redor.
Vagueando confortavelmente à deriva,
Não há maturidade a se buscar para tomar decisões,
Nem decisões a serem tomadas.
Claramente os sinais se apresentam.
Seguindo o fluxo, o fluxo segue você.
Firmemente convicto o bambu se curva ao vento.
Da arrogância não nascem flores,
nem da bondade grilhões.
Pela manhã me levantei e vi que estava cego.
Agradeci aos céus e tomei meu caminho.
Os olhos que enxergam para fora,
contemplam apenas o próprio umbigo.
O delete da vida real existe, lhe prometo.
Pensar enlouquece...
Pense nisso!"
09/04/2007
Próxima parada: O Infinito
Era 1:20hs da madruga, depois de andar mais de 50 minutos a pé, com uma dor horrível no joelho direito, tudo que eu precisava era que o ônibus passasse para me levar para casa. Ter de completar a pé o fim do trajeto naquele momento e naquelas condições iria ser desesperador.
Mas a história não começa ai, horas antes estava em Ilha Bela, quando tudo que queria era estar na cama dormindo, foi um dia cansativo e não tinha disposição para curtir a noite, ao contrário dos meus amigos que me acompanhavam.
De repente, no meio da multidão, me deu cinco minutos e decidi ir embora, dei tchau, fui até o ponto de ônibus e peguei uma lotação que estava saindo, 23hs da noite, viro para o motorista e pergunto:
- Vai para a balsa?
- Vai, mas dá uma volta grande hein!
- Tudo bem, não estou com pressa.
Depois de um tour por Ilha Bela finalmente chego na balsa e consigo atravessar para São Sebastião, eram 00:10hs de um novo dia. Chego ao ponto de ônibus e pergunto para um caiçara que estava ali:
- Oi amigo, o ônibus que vai sentido Caraguá já passou?
- Ihhh amigo, acabou de passar, o próximo é só as 1:10hs.
Maravilha! Pensei comigo. Vou a pé mesmo.
Foi assim que às 1:20hs estava num ponto bem mais a frente esperando pelo ônibus, sabia que a pé seria difícil terminar o trajeto.
Mas porque o diabo do ônibus não passava?! Já estava atrasado em 10 minutos! E nessa hora não tem trânsito, alias, não tinha nem mesmo uma alma viva na rua. Nada além da brisa que soprava gelada do mar.
Confesso que olhei para o céu e pensei:
- Puta merda! Eu sempre confio em você, mas não dá pra dar pelo menos uma aliviada de vez em quando não?! Eu nunca peço nada! Cacete!!
Realmente fiquei nervoso, talvez até por besteira, mas naquele momento estava difícil manter o controle.
Olhei mais uma vez para a rua vazia, olhei para o céu novamente e pensei:
- Tá bom! Se é assim eu vou a pé mesmo! Foda-se!
Viro de costas, dou alguns passos e ouço o ônibus chegando, dou o sinal, o motorista para uns metros à frente e subo.
Impressionante como isso foi tão significativo, uma lição sobre a confiança. Normalmente quando perdemos a esperança é que as coisas acontecem.
Se tivesse esperado mais alguns minutos, certamente teria dormido com uma tensão a menos nos ombros.
Naquela noite a vida me mostrou uma fraqueza em minha prática, com uma classe que só ela tem.
Obrigado!
Mas a história não começa ai, horas antes estava em Ilha Bela, quando tudo que queria era estar na cama dormindo, foi um dia cansativo e não tinha disposição para curtir a noite, ao contrário dos meus amigos que me acompanhavam.
De repente, no meio da multidão, me deu cinco minutos e decidi ir embora, dei tchau, fui até o ponto de ônibus e peguei uma lotação que estava saindo, 23hs da noite, viro para o motorista e pergunto:
- Vai para a balsa?
- Vai, mas dá uma volta grande hein!
- Tudo bem, não estou com pressa.
Depois de um tour por Ilha Bela finalmente chego na balsa e consigo atravessar para São Sebastião, eram 00:10hs de um novo dia. Chego ao ponto de ônibus e pergunto para um caiçara que estava ali:
- Oi amigo, o ônibus que vai sentido Caraguá já passou?
- Ihhh amigo, acabou de passar, o próximo é só as 1:10hs.
Maravilha! Pensei comigo. Vou a pé mesmo.
Foi assim que às 1:20hs estava num ponto bem mais a frente esperando pelo ônibus, sabia que a pé seria difícil terminar o trajeto.
Mas porque o diabo do ônibus não passava?! Já estava atrasado em 10 minutos! E nessa hora não tem trânsito, alias, não tinha nem mesmo uma alma viva na rua. Nada além da brisa que soprava gelada do mar.
Confesso que olhei para o céu e pensei:
- Puta merda! Eu sempre confio em você, mas não dá pra dar pelo menos uma aliviada de vez em quando não?! Eu nunca peço nada! Cacete!!
Realmente fiquei nervoso, talvez até por besteira, mas naquele momento estava difícil manter o controle.
Olhei mais uma vez para a rua vazia, olhei para o céu novamente e pensei:
- Tá bom! Se é assim eu vou a pé mesmo! Foda-se!
Viro de costas, dou alguns passos e ouço o ônibus chegando, dou o sinal, o motorista para uns metros à frente e subo.
Impressionante como isso foi tão significativo, uma lição sobre a confiança. Normalmente quando perdemos a esperança é que as coisas acontecem.
Se tivesse esperado mais alguns minutos, certamente teria dormido com uma tensão a menos nos ombros.
Naquela noite a vida me mostrou uma fraqueza em minha prática, com uma classe que só ela tem.
Obrigado!
26/03/2007
Só para não passar em branco...
Se você quer ver o Sol nascer tem de acordar cedo, mas isso não é garantia, porque o céu pode estar nublado. Mesmo assim, um dia de Sol, justifica um ano de nuvens!
19/03/2007
Para onde vão as nuvens brancas?
Toda criança já brincou um dia de olhar para o céu e ver formas nas nuvens...
"Olha! Um coelho!"
"Aquela outra parece uma caveira."
"Nossa! Essa aqui parece a frente de um barco!"
Formas e nomes que representam coisas, objetos concretos ou emoções abstratas, conceitos discutidos ou teorias elaboradas, mas independente do formato que possuem, as nuvens são apenas nuvens e tem seu papel no processo natural do planeta.
Mas e se as nuvens de repente, de uma hora para outra, começassem a pensar e a ter consciência de si mesmas? Como em um desenho animado onde as coisas inanimadas ganham uma personalidade.
Na mente da nuvem que parecia uma caveira surgirá uma referência de caveira: "Eu sou uma caveira". Da mesma forma nas outras nuvens, cada qual com sua forma e nome particular.
Nesse momento talvez você se pergunte: "Onde diabos ele quer chegar com esse texto maluco?!" Calma!
Imagine então que as nuvens comecem a se sentir solitárias: "eu sou uma caveira e não vejo nada ao redor que se assemelhe a mim". Muito provavelmente as nuvens que se assemelhassem a uma caveira passariam a se agrupar, talvez até criassem uma associação para lutar por seus direitos e para discutir quais reformas são necessárias ao céu, para que as nuvens caveiras tenham melhores condições de vida.
Muito provavelmente também o medo de perder sua forma atual de caveira existiria, afinal o vento continua soprando, assim nossa amiga nuvem com forma de caveira acabou de criar nascimento e morte em sua recém pensante cabeça.
Com nascimento e morte surge à vontade de se buscar algo, algo que talvez possa diminuir esse sofrimento perante a efemeridade de sua breve existência.
Sim! As nuvens agora precisam de algo para justificar sua existência! Não apenas justificar sua existência, como também respostas para suas indagações mais profundas: "Dá onde viemos, para onde vamos e qual o motivo disso tudo?".
As nuvens com forma de psicólogo provavelmente iriam auxiliar as nuvens com formato de dúvida, as nuvens formato de polícia combateriam as nuvens com formato de bandido e as nuvens com formato de político iriam prometer ajudar as nuvens com formato de povo.
E assim surgiriam as guerras, os combates, a fome, a concentração de riquezas, a pobreza, os direitos, a cidadania, os países, as fronteiras, os sonhos e os pesadelos.
E muito provavelmente as nuvens esqueceriam totalmente que sua essência é formada pelo mesmo elemento e que precisam chover para realizar o processo pelo qual foram criadas.
Após alguns anos a Terra estaria seca e o céu completamente nublado, a temperatura subiria tanto que não haveriam mais condições para as nuvens existirem como nuvens. A vida complexa que antes existia regrediria para uma vida simples, de poucos elementos e interações.
Essa seria a extinção das nuvens, até o momento em que em algum outro lugar, tempo e espaço de nossa infinita existência surjam condições favoráveis à evolução da vida para formas mais dinâmicas novamente.
Sem apego ou desapego, sem condenar ou justificar, apenas um relato direto, sem tomar partido, sem escolher qual nuvem está correta e qual está errada.
Gostaria apenas que as nuvens pudessem voltar a se conhecer pelo que são e não pelo que acreditam.
Somente isso é necessário...
Coragem nuvens, coragem!
"Olha! Um coelho!"
"Aquela outra parece uma caveira."
"Nossa! Essa aqui parece a frente de um barco!"
Formas e nomes que representam coisas, objetos concretos ou emoções abstratas, conceitos discutidos ou teorias elaboradas, mas independente do formato que possuem, as nuvens são apenas nuvens e tem seu papel no processo natural do planeta.
Mas e se as nuvens de repente, de uma hora para outra, começassem a pensar e a ter consciência de si mesmas? Como em um desenho animado onde as coisas inanimadas ganham uma personalidade.
Na mente da nuvem que parecia uma caveira surgirá uma referência de caveira: "Eu sou uma caveira". Da mesma forma nas outras nuvens, cada qual com sua forma e nome particular.
Nesse momento talvez você se pergunte: "Onde diabos ele quer chegar com esse texto maluco?!" Calma!
Imagine então que as nuvens comecem a se sentir solitárias: "eu sou uma caveira e não vejo nada ao redor que se assemelhe a mim". Muito provavelmente as nuvens que se assemelhassem a uma caveira passariam a se agrupar, talvez até criassem uma associação para lutar por seus direitos e para discutir quais reformas são necessárias ao céu, para que as nuvens caveiras tenham melhores condições de vida.
Muito provavelmente também o medo de perder sua forma atual de caveira existiria, afinal o vento continua soprando, assim nossa amiga nuvem com forma de caveira acabou de criar nascimento e morte em sua recém pensante cabeça.
Com nascimento e morte surge à vontade de se buscar algo, algo que talvez possa diminuir esse sofrimento perante a efemeridade de sua breve existência.
Sim! As nuvens agora precisam de algo para justificar sua existência! Não apenas justificar sua existência, como também respostas para suas indagações mais profundas: "Dá onde viemos, para onde vamos e qual o motivo disso tudo?".
As nuvens com forma de psicólogo provavelmente iriam auxiliar as nuvens com formato de dúvida, as nuvens formato de polícia combateriam as nuvens com formato de bandido e as nuvens com formato de político iriam prometer ajudar as nuvens com formato de povo.
E assim surgiriam as guerras, os combates, a fome, a concentração de riquezas, a pobreza, os direitos, a cidadania, os países, as fronteiras, os sonhos e os pesadelos.
E muito provavelmente as nuvens esqueceriam totalmente que sua essência é formada pelo mesmo elemento e que precisam chover para realizar o processo pelo qual foram criadas.
Após alguns anos a Terra estaria seca e o céu completamente nublado, a temperatura subiria tanto que não haveriam mais condições para as nuvens existirem como nuvens. A vida complexa que antes existia regrediria para uma vida simples, de poucos elementos e interações.
Essa seria a extinção das nuvens, até o momento em que em algum outro lugar, tempo e espaço de nossa infinita existência surjam condições favoráveis à evolução da vida para formas mais dinâmicas novamente.
Sem apego ou desapego, sem condenar ou justificar, apenas um relato direto, sem tomar partido, sem escolher qual nuvem está correta e qual está errada.
Gostaria apenas que as nuvens pudessem voltar a se conhecer pelo que são e não pelo que acreditam.
Somente isso é necessário...
Coragem nuvens, coragem!
14/03/2007
Toc, toc, toc. Quem bate?
O vento corta o corredor, enquanto em silêncio espero minha vez...
A sala de meditação está repleta, todos quietos voltados para a parede, cada um com seu caminho, cada um com seu cada um, todos nós juntos.
Ali no corredor esperava minha vez de entrar para fazer uma entrevista particular com a mestra.
Nesses breves minutos de espera, impressionante a quantidade de informações que circulam pela cabeça, quantas projeções do que fazer, do que vai acontecer e se isso e se aquilo, enfim, minutos tensos!
Não se sabe quanto tempo a pessoa que entrou na sua frente ficará lá dentro com a mestra, pode ser 15 segundos ou uma hora, se a entrevista durar mais tempo do que o período de meditação você perdeu a oportunidade e só poderá fazer no próximo período, que dependendo da ocasião poderá ser somente daqui a uma semana ou mais!
Para os que não conhecem, uma entrevista em meditação no Zen Budismo chama-se Dokusan, uma oportunidade de se sentar em frente ao mestre ou mestra, olhar nos olhos e perguntar ou dizer qualquer coisa que esteja lhe afligindo no momento, não é apenas uma entrevista particular, é uma oportunidade para mergulhar em sua prática e no mistério da vida.
Mas voltemos àqueles breves instantes antes de chegada minha hora, enquanto aguardo no corredor pelo sino que autoriza a entrada na sala, voltemos àqueles breves minutos que parecem horas, que parecem levar toda a idade média para passar.
Eu ali sentado, esperando, o vento cortando a cara, aquele silêncio cheio de expectativas, a perna quer balançar, os dedos querem se mexer, se pudesse até roia as unhas, mas preciso manter a postura.
Então o sino toca!
Fudeu!
Me levanto e caminho até o sino que eu devo tocar no corredor para avisar que tem mais uma pessoa ali fora.
Pego o martelinho, devo dar 3 toques.
TuMMmmMmMMmm – Não soou legal, deixa eu me esforçar mais.
TUMMMMMMMMMMMMMM – Ihhhhhhh, muito forte!
tuuumm – Ihhhhhh, muito fraco! Bom, agora já foi!
Abro a porta, caminho até a sala, tudo escuro, apenas luz de velas, sentada no canto ela me aguarda, faço uma reverência na porta, caminho até a almofada para me sentar e em pé mais uma reverência, me sento, mais uma reverência.
Levanto a cabeça, olhos nos olhos....
Silêncio....
Todos aqueles pensamentos se foram, toda a segurança da mente, todos os planos e projeções fugiram, me deixaram aqui sozinho. É sempre assim.
Tento dizer algo, as palavras não saem, gaguejo, não consigo falar algo que não seja sincero, estar ali é como estar diante de si mesmo, não existe necessidade de mentir, não existe necessidade de chorar lágrimas falsas ou mostrar força onde ela não existe.
Ali era apenas eu, não havia um ela, era como estar diante de uma floresta, uma cachoeira, ou do mar, naturalmente integrado, apenas minha mente ingênua destoando do Todo.
Enfiam as palavras saem, a conversa flui, mas não como uma conversa comum, não existem padrões ou rituais, não é mais um processo automático de pergunta e resposta, ação e reação.
Então, sem aviso prévio o sino toca na mão dela novamente.
Hora de ir. Em nenhum momento passa pela cabeça se havia algo não dito, se havia algo por se fazer. O sino toca, você reverencia e sai, simplesmente sai.
E pronto, lá se foi a sua antiga vida!
Durante os próximos dias aqueles momentos repetirão como um filme, as palavras ecoaram vivas e só bem mais tarde farão algum sentido, se é que isso existe, se é que isso é necessário, normalmente não passa de mais uma ilusão da mente, tentando restringir verdades em compartimentos para utilizar mais tarde em alguma situação peculiar.
No entanto se você puder se entregar e se você puder confiar, virá o momento em que não haverá mais um “eu” e um “ela” ali naquela sala. Haverá o momento que os olhos que enxergam são os mesmos que contemplam. Haverá o momento em que todos os mestres do passado e do futuro estarão ali presentes em corpo e alma.
E então será alcançada a liberação de tudo, a transmissão de coração a coração.
Que os méritos se estendam a todos os seres...
Mãos em prece.
A sala de meditação está repleta, todos quietos voltados para a parede, cada um com seu caminho, cada um com seu cada um, todos nós juntos.
Ali no corredor esperava minha vez de entrar para fazer uma entrevista particular com a mestra.
Nesses breves minutos de espera, impressionante a quantidade de informações que circulam pela cabeça, quantas projeções do que fazer, do que vai acontecer e se isso e se aquilo, enfim, minutos tensos!
Não se sabe quanto tempo a pessoa que entrou na sua frente ficará lá dentro com a mestra, pode ser 15 segundos ou uma hora, se a entrevista durar mais tempo do que o período de meditação você perdeu a oportunidade e só poderá fazer no próximo período, que dependendo da ocasião poderá ser somente daqui a uma semana ou mais!
Para os que não conhecem, uma entrevista em meditação no Zen Budismo chama-se Dokusan, uma oportunidade de se sentar em frente ao mestre ou mestra, olhar nos olhos e perguntar ou dizer qualquer coisa que esteja lhe afligindo no momento, não é apenas uma entrevista particular, é uma oportunidade para mergulhar em sua prática e no mistério da vida.
Mas voltemos àqueles breves instantes antes de chegada minha hora, enquanto aguardo no corredor pelo sino que autoriza a entrada na sala, voltemos àqueles breves minutos que parecem horas, que parecem levar toda a idade média para passar.
Eu ali sentado, esperando, o vento cortando a cara, aquele silêncio cheio de expectativas, a perna quer balançar, os dedos querem se mexer, se pudesse até roia as unhas, mas preciso manter a postura.
Então o sino toca!
Fudeu!
Me levanto e caminho até o sino que eu devo tocar no corredor para avisar que tem mais uma pessoa ali fora.
Pego o martelinho, devo dar 3 toques.
TuMMmmMmMMmm – Não soou legal, deixa eu me esforçar mais.
TUMMMMMMMMMMMMMM – Ihhhhhhh, muito forte!
tuuumm – Ihhhhhh, muito fraco! Bom, agora já foi!
Abro a porta, caminho até a sala, tudo escuro, apenas luz de velas, sentada no canto ela me aguarda, faço uma reverência na porta, caminho até a almofada para me sentar e em pé mais uma reverência, me sento, mais uma reverência.
Levanto a cabeça, olhos nos olhos....
Silêncio....
Todos aqueles pensamentos se foram, toda a segurança da mente, todos os planos e projeções fugiram, me deixaram aqui sozinho. É sempre assim.
Tento dizer algo, as palavras não saem, gaguejo, não consigo falar algo que não seja sincero, estar ali é como estar diante de si mesmo, não existe necessidade de mentir, não existe necessidade de chorar lágrimas falsas ou mostrar força onde ela não existe.
Ali era apenas eu, não havia um ela, era como estar diante de uma floresta, uma cachoeira, ou do mar, naturalmente integrado, apenas minha mente ingênua destoando do Todo.
Enfiam as palavras saem, a conversa flui, mas não como uma conversa comum, não existem padrões ou rituais, não é mais um processo automático de pergunta e resposta, ação e reação.
Então, sem aviso prévio o sino toca na mão dela novamente.
Hora de ir. Em nenhum momento passa pela cabeça se havia algo não dito, se havia algo por se fazer. O sino toca, você reverencia e sai, simplesmente sai.
E pronto, lá se foi a sua antiga vida!
Durante os próximos dias aqueles momentos repetirão como um filme, as palavras ecoaram vivas e só bem mais tarde farão algum sentido, se é que isso existe, se é que isso é necessário, normalmente não passa de mais uma ilusão da mente, tentando restringir verdades em compartimentos para utilizar mais tarde em alguma situação peculiar.
No entanto se você puder se entregar e se você puder confiar, virá o momento em que não haverá mais um “eu” e um “ela” ali naquela sala. Haverá o momento que os olhos que enxergam são os mesmos que contemplam. Haverá o momento em que todos os mestres do passado e do futuro estarão ali presentes em corpo e alma.
E então será alcançada a liberação de tudo, a transmissão de coração a coração.
Que os méritos se estendam a todos os seres...
Mãos em prece.
11/03/2007
Nem tudo que é fumaça é fogo...
Sentado em meditação sou como o Everest,
mas pelas ruas desfilo como um bobo.
Dessa forma pareço um tanto passivo,
como se carregasse o peso alheio nos ombros.
Na sociedade sou como uma cobra que esguia rapidamente pela floresta,
sem fazer ruídos pode ir facilmente onde quiser sem esforço.
Quando converso com alguém sou o mais temível caçador,
escondido sobre um sorriso inocente e voz suave.
Deixo as palavras jorrarem como uma cachoeira enquanto aguardo o momento correto,
então com um golpe preciso a espada decepa a ilusão.
Quando me perguntam o que espero da vida, respondo apenas que é a vida que nos espera.
Dessa forma conheço todo o Universo sem nunca deixar meu quarto.
Recebo os anjos e demônios com a calma e paciência de um escultor,
apenas por saber que ambos são a mesma essência, manifesta sob diferentes condições.
Como um bambu oco deixo minha mente aberta a todas as possibilidades,
sem me prender a alguma personalidade em particular posso ser todas sem ser nenhuma.
Transparente como o ar e brilhante como um espelho limpo, a consciência permanece.
Os lados extremos parecem destoar entre si, como se tristeza e felicidade fossem opostas,
mas eliminando os julgamentos tudo se encaixa dentro da mesma realidade,
como o ano que encaixa em si as quatro estações.
Quando acordo confiante caminho com a cabeça baixa.
Quando acordo receoso caminho de peito aberto.
Dessa forma mantenho o equilíbrio e desvio das pedras apenas deixando a correnteza conduzir o fluxo.
Não que seja inerte, minha tarefa é a mais árdua de todas as tarefas: confiar.
Enfrento os desafios e agarro as oportunidades, só para descobrir que os limites estão sempre mais distantes do que posso imaginar.
Sob o julgamento de outros olhos posso parecer dúbio,
mas o centramento correto permite agir sempre com a certeza correta.
Conhecendo os repetitivos padrões de comportamento é possível optar ou não em se envolver com as situações.
Assim nos solitários finais de domingo, quando todas as esperanças, anseios e promessas ficam reservadas para a semana seguinte, deito a cabeça no colo da existência e ela carinhosamente afaga meu cabelo.
Como certa vez disse um velho Buda:
Meus olhos são frios como cinzas mortas,
minhas palavras vagas e dispersas,
mas meu coração, ahhhh meu coração, esse sim, arde como fogo!
O velho Buda a qual me refiro no texto é Soyen Shaku, primeiro mestre Zen Budista a ensinar nos Estados Unidos no início do século passado. Agradeço profundamente sua compaixão por deixar tão preciosos ensinamentos. Mãos em prece.
mas pelas ruas desfilo como um bobo.
Dessa forma pareço um tanto passivo,
como se carregasse o peso alheio nos ombros.
Na sociedade sou como uma cobra que esguia rapidamente pela floresta,
sem fazer ruídos pode ir facilmente onde quiser sem esforço.
Quando converso com alguém sou o mais temível caçador,
escondido sobre um sorriso inocente e voz suave.
Deixo as palavras jorrarem como uma cachoeira enquanto aguardo o momento correto,
então com um golpe preciso a espada decepa a ilusão.
Quando me perguntam o que espero da vida, respondo apenas que é a vida que nos espera.
Dessa forma conheço todo o Universo sem nunca deixar meu quarto.
Recebo os anjos e demônios com a calma e paciência de um escultor,
apenas por saber que ambos são a mesma essência, manifesta sob diferentes condições.
Como um bambu oco deixo minha mente aberta a todas as possibilidades,
sem me prender a alguma personalidade em particular posso ser todas sem ser nenhuma.
Transparente como o ar e brilhante como um espelho limpo, a consciência permanece.
Os lados extremos parecem destoar entre si, como se tristeza e felicidade fossem opostas,
mas eliminando os julgamentos tudo se encaixa dentro da mesma realidade,
como o ano que encaixa em si as quatro estações.
Quando acordo confiante caminho com a cabeça baixa.
Quando acordo receoso caminho de peito aberto.
Dessa forma mantenho o equilíbrio e desvio das pedras apenas deixando a correnteza conduzir o fluxo.
Não que seja inerte, minha tarefa é a mais árdua de todas as tarefas: confiar.
Enfrento os desafios e agarro as oportunidades, só para descobrir que os limites estão sempre mais distantes do que posso imaginar.
Sob o julgamento de outros olhos posso parecer dúbio,
mas o centramento correto permite agir sempre com a certeza correta.
Conhecendo os repetitivos padrões de comportamento é possível optar ou não em se envolver com as situações.
Assim nos solitários finais de domingo, quando todas as esperanças, anseios e promessas ficam reservadas para a semana seguinte, deito a cabeça no colo da existência e ela carinhosamente afaga meu cabelo.
Como certa vez disse um velho Buda:
Meus olhos são frios como cinzas mortas,
minhas palavras vagas e dispersas,
mas meu coração, ahhhh meu coração, esse sim, arde como fogo!
___
O velho Buda a qual me refiro no texto é Soyen Shaku, primeiro mestre Zen Budista a ensinar nos Estados Unidos no início do século passado. Agradeço profundamente sua compaixão por deixar tão preciosos ensinamentos. Mãos em prece.
07/03/2007
Causos do Inconsciente - Parte 02 - Alaya Vigya
ALAYA VIGYA
“In Sanskrit the name is alaya vigyan, the house where you go on throwing into the basement things that you want to do but you cannot…”
“Em sânscrito a palavra é alaya vigyan, a casa em cujo porão você vai juntando coisas que gostaria de fazer, mas que não pode...”
“In Sanskrit the name is alaya vigyan, the house where you go on throwing into the basement things that you want to do but you cannot…”
“Em sânscrito a palavra é alaya vigyan, a casa em cujo porão você vai juntando coisas que gostaria de fazer, mas que não pode...”
Nas noites silenciosas sem Lua, quando o trafego da avenida diminui, às vezes acordo com o som de um grito grave e repetitivo, como o rosnar de um leão, ecoando abafado por paredes distantes.
Quando pequeno tal som me assustava, acuado no quarto ao lado sobre a cama de casal, mamãe dizia baixinho em meu ouvido, “é só um pesadelo, pronto, já passou... Dorme meu bem, dorme...”.
Anos mais tarde sozinho e independente aprendi a lidar com o mesmo som misterioso, mais maduro passei a deixá-lo de lado. A cabeça vira, o travesseiro amassado também e o sono volta novamente.
Mas não nessa semana...
Se escrevo esse texto de madrugada não é por insônia, mas como uma fuga, uma fuga do rugido, que passou a estar cada vez mais próximo e intenso. Não sei se algo se aproxima de mim, ou se eu me aproximo de algo.
Por vezes quando acordo procuro olhar em volta, mas meus olhos não acostumados à escuridão não conseguem distinguir as sombras dos vultos, por isso prefiro mantê-los fechados, com força.
Até mesmo a luz que passei a deixar acessa no corredor não consegue mais aplacar meu medo.
A porta escancarada guarda o mistério que me ronda e não há nada que possa fazer para escapar dessa situação.
Como um labirinto de mil formas sinto minha percepção se descolar do corpo, como se em um segundo pudesse abraçar todo o planeta e no outro não passasse de uma pequenina cabeça de alfinete.
Luto para não perder minha identidade, mas o fluxo é forte demais. Desisto do sono e ligo a televisão.
DEIXEM-ME EM PAAAAAAAAAZ!!!!!!
...
“Pedidos em vão querido, não há ninguém aqui além de nós para ouvir tuas preces.
Por tempo demais tens juntado em teu porão coisas que não gostaria de encarar. Viemos apenas cobrar nossa parte de tua consciência que também nos pertence.
Por sermos habitantes das trevas, sentimos que a solidão queima mais do que o Sol.
Entregue-se a nós, somos todos frutos da mesma mente!
O que tens de tão precioso para defender com tanta dedicação?
Que medo é esse que guarda nada mais do que tuas próprias dúvidas e insatisfações?
Somos os fantasmas que protegem tua casa quando você sai.
Somos as assombrações que guardam teu sono quando você adormece.
Deixe que vejamos a superfície para também beber do néctar da vida!
Não vê que tua vontade de esquecer completamente nos alimenta?”
...
O coração bate forte, o sangue fervilha, as malditas vocês voltaram, mas dessa vez elas não vão conseguir o que querem! NÃO! Dessa vez não vou deixar que se aproximem, vou me trancar aqui até que se vão, se é esse corpo que querem, desse corpo me livrarei!
A navalha dilacera os pulsos e de vermelho tinge o chão, a cabeça distante sente ouvir coisas... Coisas, que coisas? É assim... O que? Quem é você? Quem é você? Querido? Querido! Acorde! Você chegou........
...
Cheguei...
- Mas... Quem são vocês?
- Nós?
- Sim, não me lembro de vocês.
- Somos você num nível muito profundo querido.
- Profundo quanto?
- Difícil mensurar, as medidas do inconsciente não são assim palpáveis, mas se tua vida fosse uma casa e teu quarto na cobertura, nós seríamos os habitantes do porão.
- Mas se vocês moram comigo há tanto tempo porque nunca os vi?
- Você esteve trancado em teu quarto durante muitos anos querido, por mais que batêssemos a tua porta você nunca nos recebeu. Aliás, poucas são as visitas que você permitiu adentrar em teus aposentos.
- Não entendo.
- Você não se lembra porque ainda não tinha consciência, mas anos atrás quando a grande divisão se fez e você selecionou apenas os escolhidos, fomos isolados naquele território escuro onde você guardava as coisas que gostaria de enfrentar, mas que não podia.
- Então eram vocês os responsáveis por aqueles rugidos assustadores?
- Não eram rugidos, muito menos assustadores, eram apelos por socorro, seus ouvidos treinados a escutar apenas o que quer ouvir é que não eram capazes de entender o significado de nossos apelos.
- E porque agora te escuto tão claramente?
- Porque você abriu mão da falsa segurança que cultivava.
- Como assim?
- Você morreu querido.
- COMO ASSIM?!
- Sim, você morreu. Morreu para esse passado obscuro, mas o processo ainda não está completo, você precisa aceitar. Venha, me de sua mão. Não há mais nada a ser revelado.
- Aceito.
...
Vozes distantes e uma luz forte e branca, cheiro forte.
BIP, BIP, BIP.
Apitos ao meu lado, pisco os olhos, está tudo embaçado, me faltam forças, tento dizer algo, a boca não se mexe.
Não quero mais dormir, mas é tão difícil que não consigo evitar... evitar... evitar...
...
- Por favor, me diga que ele vai ficar bom Doutor!
- Ele perdeu muito sangue e está fraco, apesar disso não houve seqüelas graves. Acredito que em pouco tempo ele terá alta e poderá voltar para casa.
- Deus ouviu minhas preces!
...
Hoje sei, que os porões de Alaya Vigya é que guardavam os pedaços arrancados de mim.
Sempre imaginei que eles estivessem enterrados no passado, mas na verdade eram para lá que eles iam.
Agradeço por um dia voltarem a me assombrar, só agora me sinto completo, como se minha alma estivesse um pouco mais cristalizada.
Se pudesse voltar um pouco no tempo não teria tomado medidas tão drásticas, nem decisões tão fúteis e egoístas, mas talvez assim o tenha feito para me defender de sentimentos maiores dos quais não estava preparado para suportar.
Tenho sentido a Existência em si mais presente, como se não houvesse lugar em que não me sentisse em casa.
O próprio Universo, lar doce lar...
06/03/2007
Finais felizes...
Após tantos anos ao seu lado, difícil encontrar aquilo que posso chamar de meu “eu”. Aquele “eu” que caminha com seus próprios passos.
Minha história se mescla na sua de tal forma que sozinho sinto não mais viver esta realidade, como se de uma hora para outra minhas referências tivessem sido removidas sem avisos ou alertas.
E lá se foi um pedacinho de mim...
Um empurrão inesperado para um poço sem fundo. Debato-me, tentando aprender a nadar em rápidas lições para não morrer afogado.
Exausto entrego meu corpo e meus esforços, apenas para ter a agradável surpresa que a corrente generosamente me conduz sem pressa.
Bobagem minha acreditar que por algum momento pudesse realmente estar sozinho, como se os pés pudessem caminhar sem o suporte do chão e os pulmões se encherem sem o oxigênio do ar.
Nesse emaranhado onde tudo se interliga, mesmo separados continuamos juntos, sempre juntos, desde o princípio até a extinção de mãos dadas.
Minhas carências são as justificativas para criticar seu comportamento? Não, mas foi isso que fiz durante muito tempo, terceirizando meu sentimento de dor.
Tantos caminhos pelos quais seguir, tantas portas disponíveis e nem mesmo tenho segurança para aceitar essa nova liberdade.
Mesmo assim me motivo mentalmente a aceitar o novo desafio, concordo, sejamos fortes dessa vez! Buscar o passado novamente só vai criar falsas esperanças, prazeres momentâneos de uma felicidade superficial.
Tudo que começa termina, terminou, não há mais necessidade de tentar voltar no tempo para reviver instantes mágicos que não voltam.
Coloco o fardo no chão, dessa vez de verdade, e a corrente conduz novamente o fluxo, como sempre fez, eu que me esqueci.
Levantei muros que chamei de casa e cercas que chamei de segurança. Limitando meus domínios completamente, como se a Terra pudesse ser realmente demarcada.
Agora percebo que quantos mais processos, conceitos e rótulos adiciono a mim, mas me torno vulnerável, tendo de assumir a árdua tarefa de defender o que não me pertence. Dessa forma me mantenho sempre a mercê das coisas e pessoas que me incomodam.
Se não houver mais em que apoiar, o que pode me atingir? Quem restará lá para ser atingido?
As árvores tombam perante os ventos e tempestades, como se não fossem nada mais do que galhos secos, enquanto a grama apenas balança de um lado para o outro, dançando com a situação.
E eis meu segredo, descoberto sob duras penas.
Sem um objetivo pelo qual seguir, todo caminho é o caminho correto.
Sem um eu pelo qual lutar, toda morte é bem-vinda.
Sem divisões ou intervalos, me faço em tudo e tudo se faz em mim.
Sem começos especiais, ou finais felizes, apenas o que é.
Minha história se mescla na sua de tal forma que sozinho sinto não mais viver esta realidade, como se de uma hora para outra minhas referências tivessem sido removidas sem avisos ou alertas.
E lá se foi um pedacinho de mim...
Um empurrão inesperado para um poço sem fundo. Debato-me, tentando aprender a nadar em rápidas lições para não morrer afogado.
Exausto entrego meu corpo e meus esforços, apenas para ter a agradável surpresa que a corrente generosamente me conduz sem pressa.
Bobagem minha acreditar que por algum momento pudesse realmente estar sozinho, como se os pés pudessem caminhar sem o suporte do chão e os pulmões se encherem sem o oxigênio do ar.
Nesse emaranhado onde tudo se interliga, mesmo separados continuamos juntos, sempre juntos, desde o princípio até a extinção de mãos dadas.
Minhas carências são as justificativas para criticar seu comportamento? Não, mas foi isso que fiz durante muito tempo, terceirizando meu sentimento de dor.
Tantos caminhos pelos quais seguir, tantas portas disponíveis e nem mesmo tenho segurança para aceitar essa nova liberdade.
Mesmo assim me motivo mentalmente a aceitar o novo desafio, concordo, sejamos fortes dessa vez! Buscar o passado novamente só vai criar falsas esperanças, prazeres momentâneos de uma felicidade superficial.
Tudo que começa termina, terminou, não há mais necessidade de tentar voltar no tempo para reviver instantes mágicos que não voltam.
Coloco o fardo no chão, dessa vez de verdade, e a corrente conduz novamente o fluxo, como sempre fez, eu que me esqueci.
Levantei muros que chamei de casa e cercas que chamei de segurança. Limitando meus domínios completamente, como se a Terra pudesse ser realmente demarcada.
Agora percebo que quantos mais processos, conceitos e rótulos adiciono a mim, mas me torno vulnerável, tendo de assumir a árdua tarefa de defender o que não me pertence. Dessa forma me mantenho sempre a mercê das coisas e pessoas que me incomodam.
Se não houver mais em que apoiar, o que pode me atingir? Quem restará lá para ser atingido?
As árvores tombam perante os ventos e tempestades, como se não fossem nada mais do que galhos secos, enquanto a grama apenas balança de um lado para o outro, dançando com a situação.
E eis meu segredo, descoberto sob duras penas.
Sem um objetivo pelo qual seguir, todo caminho é o caminho correto.
Sem um eu pelo qual lutar, toda morte é bem-vinda.
Sem divisões ou intervalos, me faço em tudo e tudo se faz em mim.
Sem começos especiais, ou finais felizes, apenas o que é.
28/02/2007
Como colher morangos silvestres...
"Ao atravessar um campo, um homem encontrou um tigre."
"Fugiu disparado, com o tigre atrás dele.
À sua frente se deparou com um precipício em que acabou por cair, mas conseguiu agarrar-se à raiz de uma velha videira e ali ficou pendurado.
Tremendo de medo, olhou para baixo e viu outro tigre, que o esperava despencar, cheio de apetite.
Só mesmo a videira lhe restava para salvar a vida.
Então eis que apareceram dois ratos, um branco e outro preto, que pouco a pouco começaram a roer a raiz da videira.
Foi só nesse momento que olhou para o pé da videira e reparou que ali estava um suculento morango silvestre.
Agarrando-se à videira com uma mão, colheu o morango com a outra e não se conteve:
- Hmmmm... Delícia!!"
"Fugiu disparado, com o tigre atrás dele.
À sua frente se deparou com um precipício em que acabou por cair, mas conseguiu agarrar-se à raiz de uma velha videira e ali ficou pendurado.
Tremendo de medo, olhou para baixo e viu outro tigre, que o esperava despencar, cheio de apetite.
Só mesmo a videira lhe restava para salvar a vida.
Então eis que apareceram dois ratos, um branco e outro preto, que pouco a pouco começaram a roer a raiz da videira.
Foi só nesse momento que olhou para o pé da videira e reparou que ali estava um suculento morango silvestre.
Agarrando-se à videira com uma mão, colheu o morango com a outra e não se conteve:
- Hmmmm... Delícia!!"
Alma pura - e dá pra sujar?!
Alma pura como uma criança! Simples paz no coração! Faz de um ideal, revolução!
Desejo que minhas palavras fossem capazes de aplacar seu sofrimento.
Desejo que meus gestos fossem capazes de apaziguar suas ansiedades.
Desejo que minhas ações fossem capazes de diminuir sua dor.
Apenas desejos...
Muito além de meu poder questionar as razões alheias, como se fossem minhas responsabilidades, como se minhas preocupações alheias não fossem frutos de minhas próprias carências.
Esculpidas em mármore as estátuas tomam vida em minha mente, mas na realidade são pessoas como eu, que estão além de minhas expectativas e anseios.
Incomoda quando as estátuas têm vida própria, ela agem como querem e não como espero, então as aprisiono, e coloco em cada uma o pesado fardo de meu amor condicionado: agindo dessa forma serás recompensado, agindo assim serás punido.
Dizem que aqueles que procuram por coisas finitas são recompensados com coisas finitas.
Assim são as recompensas do mundo, tesouros breves que só tem valor quando comparados entre si. Ingênuas visões entre o que julgamos melhor e o que julgamos pior. Felizmente a existência não faz julgamentos e nos aceita como somos, todos especiais, sem exceções.
Tão especial como 20 Sols nascendo no horizonte, tão especial como um pequeno grão de areia sob o caudaloso rio Gangis.
Se meus desejos não têm força, gostaria ao menos de lhe dizer que sim, existe uma saída.
Sim, suas perguntas têm respostas!
Alma pura como uma criança! E Deus irá recebê-lo pessoalmente nos momentos mais difíceis. Confie e ele próprio transforma as trevas em claridade. É você que tem carregado as más lembranças por tanto tempo. O passado se foi, mas continua muito presente quando insistimos em viver no que se foi.
Coragem, não há mal que não tenha fim, nem tristeza que preencha o inevitável.
Não que o sofrimento não exista, não que devêssemos nos tornar tão frios quanto computadores e robôs, pelo contrário, o magnífico em nós e poder viver todos os extremos, todas as emoções, viver em plenitude.
Apenas tome cuidado para não se apegar, desapego é abandonar a tendência da mente em controlar os fatos, traduzindo, querer sempre o que é bom e condenar sempre o que é ruim.
Essa é a causa do sofrimento, tentar aprisionar a mudança para adequá-la ao que imaginamos ser o melhor.
E assim a vida passa, como um trator demolindo tudo a sua frente, e abrindo espaço para o novo. Quando sentimos pena do que foi demolido nos esquecemos da novidade que vêm chegando, quando exaltamos a novidade, esquecemos do que deu espaço a ela.
Nem tanto um, nem tanto o outro, pelo meio é a forma correta de caminhar sobre a corda, equilibrando-se da direita para a esquerda por sobre o abismo.
Alma pura, um morango silvestre, coloco na boca, hmmmmmmm, que delícia!
Desejo que minhas palavras fossem capazes de aplacar seu sofrimento.
Desejo que meus gestos fossem capazes de apaziguar suas ansiedades.
Desejo que minhas ações fossem capazes de diminuir sua dor.
Apenas desejos...
Muito além de meu poder questionar as razões alheias, como se fossem minhas responsabilidades, como se minhas preocupações alheias não fossem frutos de minhas próprias carências.
Esculpidas em mármore as estátuas tomam vida em minha mente, mas na realidade são pessoas como eu, que estão além de minhas expectativas e anseios.
Incomoda quando as estátuas têm vida própria, ela agem como querem e não como espero, então as aprisiono, e coloco em cada uma o pesado fardo de meu amor condicionado: agindo dessa forma serás recompensado, agindo assim serás punido.
Dizem que aqueles que procuram por coisas finitas são recompensados com coisas finitas.
Assim são as recompensas do mundo, tesouros breves que só tem valor quando comparados entre si. Ingênuas visões entre o que julgamos melhor e o que julgamos pior. Felizmente a existência não faz julgamentos e nos aceita como somos, todos especiais, sem exceções.
Tão especial como 20 Sols nascendo no horizonte, tão especial como um pequeno grão de areia sob o caudaloso rio Gangis.
Se meus desejos não têm força, gostaria ao menos de lhe dizer que sim, existe uma saída.
Sim, suas perguntas têm respostas!
Alma pura como uma criança! E Deus irá recebê-lo pessoalmente nos momentos mais difíceis. Confie e ele próprio transforma as trevas em claridade. É você que tem carregado as más lembranças por tanto tempo. O passado se foi, mas continua muito presente quando insistimos em viver no que se foi.
Coragem, não há mal que não tenha fim, nem tristeza que preencha o inevitável.
Não que o sofrimento não exista, não que devêssemos nos tornar tão frios quanto computadores e robôs, pelo contrário, o magnífico em nós e poder viver todos os extremos, todas as emoções, viver em plenitude.
Apenas tome cuidado para não se apegar, desapego é abandonar a tendência da mente em controlar os fatos, traduzindo, querer sempre o que é bom e condenar sempre o que é ruim.
Essa é a causa do sofrimento, tentar aprisionar a mudança para adequá-la ao que imaginamos ser o melhor.
E assim a vida passa, como um trator demolindo tudo a sua frente, e abrindo espaço para o novo. Quando sentimos pena do que foi demolido nos esquecemos da novidade que vêm chegando, quando exaltamos a novidade, esquecemos do que deu espaço a ela.
Nem tanto um, nem tanto o outro, pelo meio é a forma correta de caminhar sobre a corda, equilibrando-se da direita para a esquerda por sobre o abismo.
Alma pura, um morango silvestre, coloco na boca, hmmmmmmm, que delícia!
25/02/2007
Finita é sua recompensa...
Durante muito tempo observei o mundo de dentro de minha redoma de vidro, a parte e distante, protegido apenas pela aparente segurança de abundantes recursos.
Hoje agradeço por todo sofrimento que escolhi enfrentar e que me libertou desse breve e ilusório universo com "u" minúsculo.
Mente estável, coração puro.
Perdoe antes de ouvir as desculpas, assim você será capaz de acomodar generosamente tudo que existe em seu coração.
Hoje agradeço por todo sofrimento que escolhi enfrentar e que me libertou desse breve e ilusório universo com "u" minúsculo.
Mente estável, coração puro.
Perdoe antes de ouvir as desculpas, assim você será capaz de acomodar generosamente tudo que existe em seu coração.
24/02/2007
Os ossos do Colecionador
Cheiro de carniça
não sei onde estão
os corpos putrefados
ou aqueles ossos já ocos
não sei
Cheiro de bebê
na sala da maternidade
vida nova enche o corredor,
aqueles ossos putrefados
nasceram de novo.
Creio, se misturam
com o odor das flores
que ainda planto, os camuflo
fingindo que não existem,
esperança despercebida de
que simplesmente não existam mais
e assim sigo
Enterrado no jardim,
tutano, ossos, músculos e pele
nem só de lágrimas e risos
vivem as pessoas,
talvez uma esperança despercebida de
que talvez simplesmente não existam mais
e assim sigo, sim sigo, mas para onde?
entre o calor do sangue
que pulsa na carne,
eles se camuflam
ou os camuflo metodicamente
entre o calor do sangue
e a frieza do olhar
as dualidades se completam em meu coração
e transmutam-se em aromas mais sutis
o colecionador somos?
Somos quem?
o colecionador é?
É o que?!
Se me faço no outro, sou osso?
Se me faço em mim, sou o outro?
Se me faço no outro, que resta de mim?
As moléculas que me formam
são as mesmas que formam tudo.
Elementos comuns, fazendo e desfazendo.
Partículas a brincar de criar Universos.
Onde termina eu começa outro?
Onde termina outro começa eu?
Expiro aliviado,
preencho o mundo de amor,
de merda ele está cheio.
Agradeço...
não sei onde estão
os corpos putrefados
ou aqueles ossos já ocos
não sei
Cheiro de bebê
na sala da maternidade
vida nova enche o corredor,
aqueles ossos putrefados
nasceram de novo.
Creio, se misturam
com o odor das flores
que ainda planto, os camuflo
fingindo que não existem,
esperança despercebida de
que simplesmente não existam mais
e assim sigo
Enterrado no jardim,
tutano, ossos, músculos e pele
nem só de lágrimas e risos
vivem as pessoas,
talvez uma esperança despercebida de
que talvez simplesmente não existam mais
e assim sigo, sim sigo, mas para onde?
entre o calor do sangue
que pulsa na carne,
eles se camuflam
ou os camuflo metodicamente
entre o calor do sangue
e a frieza do olhar
as dualidades se completam em meu coração
e transmutam-se em aromas mais sutis
o colecionador somos?
Somos quem?
o colecionador é?
É o que?!
Se me faço no outro, sou osso?
Se me faço em mim, sou o outro?
Se me faço no outro, que resta de mim?
As moléculas que me formam
são as mesmas que formam tudo.
Elementos comuns, fazendo e desfazendo.
Partículas a brincar de criar Universos.
Onde termina eu começa outro?
Onde termina outro começa eu?
Expiro aliviado,
preencho o mundo de amor,
de merda ele está cheio.
Agradeço...
20/02/2007
O Colecionador de Ossos
O último espaço livre da parede foi preenchido pela manhã, o Colecionador de Ossos fez mais uma vítima essa noite.
Nem mesmo as frestas de luz abertas pela janela são capazes de ofuscar sua obsessão.
Pela casa espalham-se diferentes ossadas, todas mulheres de diferentes idades e tipos, sua paixão não é nada seletiva ou preconceituosa.
Uma a uma, noite a noite, o Colecionador busca nos cemitérios pelos túmulos mais esquecidos e abandonados.
Em sua cabeça seu trabalho é de salvação, uma silenciosa luta para resgatar memórias esquecidas, condenadas ao silêncio da vida eterna.
Conhece e chama todas pelo nome, apesar de agora serem centenas nunca as confunde ou esqueçe. A elas dedica uma atenção que provavelmente nunca tiveram em vida.
Contam que seu amor é verdadeiro porque não cria expectativas, daquele tipo que se manifesta quando não há mais nada a ser alcançado.
Quando fui chamado para fazer o laudo da cena do crime não senti em momento algum repulsa. Pode parecer estranho, mas realmente aqueles ossos enfileirados pareciam ser gratos de alguma forma pelo esforço daquele homem.
Como se de alguma forma o amor pudesse alterar a expressão da morte, dessa forma para mim seu trabalho também era de salvação.
No entanto não entendia como alguém que se dedicava inteiramente a cuidar dos mortos, pudesse cometer um assassinato tão frio.
Na sala principal o sangue seco guardava um corpo feminino, marcado com o peso de sete punhaladas.
O julgamento foi rápido, causa fácil. Diagnóstico? Distúrbios mentais. Pena? Prisão perpétua, ou como dizem nos termos legais, isolamento em hospital psiquiátrico para tratamento de doença mental.
Assim naquela noite todos puderam dormir tranquilos, com a sensação de justiça feita.
Menos eu...
Para mim aquelas punhaladas não foram de ódio, mas de medo.
Pela primeira vez aquele Colecionador de ossos se envolveu com alguém que não podia prever, pela primeira vez teve contato íntimo com um ser humano vivo, de carne e osso.
A situação pela qual sonhou durante tantos anos aconteceu, uma amante, uma pessoa que sentia seu carinho e retribuia.
Assim seu amor foi testado e ele falhou.
Depois de tantos anos de preparação, cuidando, estudando e protegendo inúmeras ossadas abandonadas ele desenvolveu uma estranha habilidade de ver a vida na morte, no entanto quando os ossos tomaram vida e se materializaram em sua presença ele estremeceu, perdeu o controle.
Para mim o que levo daquele homem é essa grande mensagem, de que quando desejamos demais por algo, no fundo temos medo de que aquilo se realize, porque caso se torne verdade não teremos mais pelo que buscar, nem pelo que sofrer.
Difícil aceitar, quem lê provavelmente imagina se tratar de um grande absurdo, mas vejo ocorrer todos os dias nas mais diferentes situações.
Portanto tudo que posso lhe fazer é uma pergunta, pela qual não espero resposta.
E você? Onde tem guardado seus ossos?
Nem mesmo as frestas de luz abertas pela janela são capazes de ofuscar sua obsessão.
Pela casa espalham-se diferentes ossadas, todas mulheres de diferentes idades e tipos, sua paixão não é nada seletiva ou preconceituosa.
Uma a uma, noite a noite, o Colecionador busca nos cemitérios pelos túmulos mais esquecidos e abandonados.
Em sua cabeça seu trabalho é de salvação, uma silenciosa luta para resgatar memórias esquecidas, condenadas ao silêncio da vida eterna.
Conhece e chama todas pelo nome, apesar de agora serem centenas nunca as confunde ou esqueçe. A elas dedica uma atenção que provavelmente nunca tiveram em vida.
Contam que seu amor é verdadeiro porque não cria expectativas, daquele tipo que se manifesta quando não há mais nada a ser alcançado.
Quando fui chamado para fazer o laudo da cena do crime não senti em momento algum repulsa. Pode parecer estranho, mas realmente aqueles ossos enfileirados pareciam ser gratos de alguma forma pelo esforço daquele homem.
Como se de alguma forma o amor pudesse alterar a expressão da morte, dessa forma para mim seu trabalho também era de salvação.
No entanto não entendia como alguém que se dedicava inteiramente a cuidar dos mortos, pudesse cometer um assassinato tão frio.
Na sala principal o sangue seco guardava um corpo feminino, marcado com o peso de sete punhaladas.
O julgamento foi rápido, causa fácil. Diagnóstico? Distúrbios mentais. Pena? Prisão perpétua, ou como dizem nos termos legais, isolamento em hospital psiquiátrico para tratamento de doença mental.
Assim naquela noite todos puderam dormir tranquilos, com a sensação de justiça feita.
Menos eu...
Para mim aquelas punhaladas não foram de ódio, mas de medo.
Pela primeira vez aquele Colecionador de ossos se envolveu com alguém que não podia prever, pela primeira vez teve contato íntimo com um ser humano vivo, de carne e osso.
A situação pela qual sonhou durante tantos anos aconteceu, uma amante, uma pessoa que sentia seu carinho e retribuia.
Assim seu amor foi testado e ele falhou.
Depois de tantos anos de preparação, cuidando, estudando e protegendo inúmeras ossadas abandonadas ele desenvolveu uma estranha habilidade de ver a vida na morte, no entanto quando os ossos tomaram vida e se materializaram em sua presença ele estremeceu, perdeu o controle.
Para mim o que levo daquele homem é essa grande mensagem, de que quando desejamos demais por algo, no fundo temos medo de que aquilo se realize, porque caso se torne verdade não teremos mais pelo que buscar, nem pelo que sofrer.
Difícil aceitar, quem lê provavelmente imagina se tratar de um grande absurdo, mas vejo ocorrer todos os dias nas mais diferentes situações.
Portanto tudo que posso lhe fazer é uma pergunta, pela qual não espero resposta.
E você? Onde tem guardado seus ossos?
06/02/2007
Aguenta coração!
Para entender verdadeiramente o amor, a primeira coisa a se fazer é abandonar completamente a idéia de que se pode compreendê-lo.
Compreendê-lo através dos instrumentos que temos atualmente a disposição.
Imagine um telefone celular, que se comunica através de um sinal de rádio, agora imagine uma rede de internet sem fio que também use a tecnologia de transmissão por rádio.
Apesar de usarem a mesma base de transmissão, um é incapaz de se comunicar com o outro.
Da mesma forma funciona o coração e a mente.
Por isso não é possível compreender o amor, pois são esferas distintas de linguagem.
Por se basear apenas em símbolos que retratam a realidade, a mente não pode existir sem a presença e formulação de pensamentos.
Enquanto para o coração a presença ou não de pensamentos é insignificante.
A mente capta o ambiente pelos sentidos e cria uma realidade interior, repleta de julgamentos, posições e valores.
O coração apenas capta, sem filtros o que se manifesta, seja lá o que vier.
A mente restringe, compartilha e segmenta as informações para criar um mundo de acordo com suas convicções.
O coração não limita, seus domínios são infinitos, porque ele de nada toma posse. É necessário um processo lento de retorno para eliminar os julgamentos da mente e também de confiança para permitir a entrega completa na hora certa, sem segundos pensamentos, para tornar possível à abertura do coração.
Da lama germinam muitas flores lindas, assim também é a sutileza do coração.
Apenas escute essa mensagem, sem pensar em certo ou errado, quando seu coração realmente ouvir a canção do Universo, ele se abrirá sem que nada precise ser feito ou conduzido.
Deixe que sua vida seja como o verdadeiro pulsar do coração, infinito.
Normalmente a mente entende as mensagens do coração de maneira radicalmente diferente, criando interpretações de sentimentos onde eles não existem, ou como se costuma dizer, colocando asas em cobras.
Não é da natureza do amor perpetuar segundas intenções, suas ações são as mais claras possíveis, mas só são absorvidas em essência por uma mente sem filtros.
Caso contrário o sentido é deturpado.
O coração não pode fazer o mal, mesmo afastado não fere.
Ao contrário da mente que vai das juras eternas de amor, ao desejo mais frio e tenebroso de vingança e amargura.
Aqueles olhos livres de criança, capaz de amar totalmente um simples boneco de pelúcia como se ele fosse a coisa mais importante da existência.
Naquele momento aquele bicho de pelúcia realmente é a coisa mais importante do mundo, essa é a forma como o coração se entrega e abraça o momento, sem um reduto sequer de dúvida.
Aposto que você imaginou o contra ponto tradicional de infinitos pensamentos que cruzam a mente, quase na velocidade da luz, aceitando e condenando todas as expressões com a mais perfeita lógica.
Não é de se estranhar à confusão, não é possível derramar o conteúdo do oceano em uma gota de água, mas o contrario é verdadeiro, desde que você esteja pronto a entregar.
Não SE entregar, ou entregar ALGO, mas ENTREGAR!
A vida é tão antiga quanto à eternidade e dança em novos enredos e papéis a cada instante.
Caminhando sem olhar para trás, cada caminho é completo em si mesmo, aceito o desafio e o vento carrega meu corpo sem esforço, assim é, verdade mesmo, de coração...
Compreendê-lo através dos instrumentos que temos atualmente a disposição.
Imagine um telefone celular, que se comunica através de um sinal de rádio, agora imagine uma rede de internet sem fio que também use a tecnologia de transmissão por rádio.
Apesar de usarem a mesma base de transmissão, um é incapaz de se comunicar com o outro.
Da mesma forma funciona o coração e a mente.
Por isso não é possível compreender o amor, pois são esferas distintas de linguagem.
Por se basear apenas em símbolos que retratam a realidade, a mente não pode existir sem a presença e formulação de pensamentos.
Enquanto para o coração a presença ou não de pensamentos é insignificante.
A mente capta o ambiente pelos sentidos e cria uma realidade interior, repleta de julgamentos, posições e valores.
O coração apenas capta, sem filtros o que se manifesta, seja lá o que vier.
A mente restringe, compartilha e segmenta as informações para criar um mundo de acordo com suas convicções.
O coração não limita, seus domínios são infinitos, porque ele de nada toma posse. É necessário um processo lento de retorno para eliminar os julgamentos da mente e também de confiança para permitir a entrega completa na hora certa, sem segundos pensamentos, para tornar possível à abertura do coração.
Da lama germinam muitas flores lindas, assim também é a sutileza do coração.
Apenas escute essa mensagem, sem pensar em certo ou errado, quando seu coração realmente ouvir a canção do Universo, ele se abrirá sem que nada precise ser feito ou conduzido.
Deixe que sua vida seja como o verdadeiro pulsar do coração, infinito.
Normalmente a mente entende as mensagens do coração de maneira radicalmente diferente, criando interpretações de sentimentos onde eles não existem, ou como se costuma dizer, colocando asas em cobras.
Não é da natureza do amor perpetuar segundas intenções, suas ações são as mais claras possíveis, mas só são absorvidas em essência por uma mente sem filtros.
Caso contrário o sentido é deturpado.
O coração não pode fazer o mal, mesmo afastado não fere.
Ao contrário da mente que vai das juras eternas de amor, ao desejo mais frio e tenebroso de vingança e amargura.
Aqueles olhos livres de criança, capaz de amar totalmente um simples boneco de pelúcia como se ele fosse a coisa mais importante da existência.
Naquele momento aquele bicho de pelúcia realmente é a coisa mais importante do mundo, essa é a forma como o coração se entrega e abraça o momento, sem um reduto sequer de dúvida.
Aposto que você imaginou o contra ponto tradicional de infinitos pensamentos que cruzam a mente, quase na velocidade da luz, aceitando e condenando todas as expressões com a mais perfeita lógica.
Não é de se estranhar à confusão, não é possível derramar o conteúdo do oceano em uma gota de água, mas o contrario é verdadeiro, desde que você esteja pronto a entregar.
Não SE entregar, ou entregar ALGO, mas ENTREGAR!
A vida é tão antiga quanto à eternidade e dança em novos enredos e papéis a cada instante.
Caminhando sem olhar para trás, cada caminho é completo em si mesmo, aceito o desafio e o vento carrega meu corpo sem esforço, assim é, verdade mesmo, de coração...
15/01/2007
Ego e Individualidade
Esta história conta a vida de 2 irmãos chamados Ego e Individualidade.
Poderia ser uma história como qualquer outra, não fosse o fato de que a mãe de Ego e Individualidade só deu a luz a uma criança...
Após 9 meses de espera e carinho eis que o mundo escutava o choro novo de um recém chegado.
Individualidade nasceu forte e saudável, uma menina de quase 3 quilos com um sorriso lindo que encantava a todos.
Seus primeiros anos foram como os de qualquer outra criança, brincando, engatinhando, andando, correndo, encantando os olhos fascinados dos pais corujas.
Por volta dos 4 anos, Individualidade apresentou seu novo irmãozinho à mãe:
- Olha mamãe, o nome dele é Ego! A Dona Cegonha deixou no jardim!
A mãe, que já havia lido sobre crianças e como elas criam amigos imaginários, julgou-se preparada para lidar com a nova situação e incentivou a filha:
- Que lindo! E olha como parece com você, tem o seu sorriso!
No começo tudo era normal, os pais de Individualidade imaginavam que ela criará seu irmão imaginário para ter alguém com quem brincar e dividir os momentos solitários que ficava em casa, enquanto ambos saiam para trabalhar. A mesa do jantar sempre tinha um lugar a mais, com pratos e talheres para Ego se sentar.
E um a um os anos passaram, no entanto a crença de Individualidade em Ego, seu irmão imaginário, se fortalecia mais e mais, ao contrário do que diziam os livros e especialistas.
Ego tornou-se o irmão conselheiro inseparável de Individualidade, era com ele que ela dividia todos seus medos, inseguranças e incertezas, assim como os momentos de felicidade e alegria, não importava onde ou com quem ela estivesse ele estava sempre presente.
Por conta dessa estranha mania os amigos reais de Individualidade se afastavam dela, tinham vergonha ou receio de andar ao lado de uma menina que todos diziam ser maluca. Na escola ela era sempre motivo de piadinhas, “Lá vem a Individualidade e seu amigo Gasparzinho!”, “Olha lá, quem é aquele do lado da Individualidade? Tá precisando tomar um Sol coitadinho, tá até transparente!”.
Preocupados os pais tentaram de tudo para despertá-la de sua ilusão, mas quanto mais falavam e brigavam, mais a ligação entre Individualidade e Ego se fortalecia.
Foi quando em um último ato de desespero, resolveram procurar um expert nos assuntos do mundo e criar uma trama para fazê-la tomar consciência da situação.
- Uma vez que ela perceba que o Ego é algo inventado e mantido apenas por sua imaginação, ela nunca mais se identificará com ele. Assim disse o expert nos assuntos do mundo.
A trama consistia em marcar uma viagem para a praia, aproveitando as férias escolares para juntos compartilharem uma semana em família.
Malas arrumadas, casa fechada, tanque cheio e uma dose tripla de calmante no copo de café com leite de Individualidade.
Após alguns minutos dentro do carro ela adormeceu profundamente e foi deixada pelos pais em um hospital, como mandava o plano.
Passadas algumas horas Individualidade despertou confusa e aturdida, sem imaginar o que havia lhe acontecido.
Instruído pelos pais e a par da situação o médico responsável veio lhe ver e contar sobre o terrível acidente que eles haviam sofrido. Por um milagre seus pais tinham sobrevivido, mas infelizmente seu irmão não tivera a mesma sorte e morreu minutos depois de dar entrada no hospital, com uma parada cardíaca devido à quantidade de sangue que perdera.
Individualidade chorou durante dias, que viraram semanas, que viraram meses, deixou de ir à escola, emagreceu quase 15 quilos e mal saia de casa.
Seus pais arrependeram-se do que fizeram, mas ficaram firmes e não lhe contaram a verdade, sempre apoiados pelo expert nos assuntos do mundo:
- Paciência, haverá um período de choque e confusão, já que ela esteve identificada com o Ego durante muitos anos. Vocês precisam permanecer fortes e confiantes, em breve ela enxergará toda a verdade e a crise acabará como num passe de mágica.
Conforme previsto ela se recuperou totalmente e anos mais tarde, formada e morando sozinha, veio a compreender naturalmente as raízes de sua ilusão e como havia criado e acreditado cegamente nela como na própria realidade.
Percebeu também a estratégia dos pais e os agradeceu por terem levado o plano até o fim sem fraquejar.
Decidiu que chegará à hora de conhecer o homem por trás de tudo e quis conhecer o expert nos assuntos do mundo.
Ao vê-lo notou que ele tinha um olhar brilhante e tranqüilo e a primeira coisa que veio a sua mente foi:
- Você sabe lidar tão bem com as pessoas, do mesmo jeito que sabe lidar com seres imaginários?
- Ambos são apenas frutos da imaginação. Ele respondeu.
Ela continuou:
- Sinto pela sua resposta que o homem capaz de enxergar o imaginário deva conhecer o real.
- Individualidade, da mesma forma digo que alguém que questiona a realidade, faz isto porque já conhece a irrealidade.
- Compreendo o que senhor quer dizer.
- Diga-me Individualidade, em qual realidade baseiam-se seus questionamentos?
Após essa conversa Individualidade tornou-se discípula do expert nos assuntos do mundo e estudou com ele durante anos. No momento de sua morte ela esteve a seu lado e foi ela quem continuou e expandiu seus ensinamentos, unindo a sabedoria dele ao seu coração cuidadoso.
Mas a morte chega para todos e um dia também sorriu para Individualidade. Foi no dia em que abandonou seu corpo que ela narrou o texto abaixo a seus discípulos:
"Naquela época, motivada apenas por uma incessante carência de reconhecimento pessoal e exterior, criei e cultivei o Ego para satisfazer as questões que me preocupavam e incomodavam.
Através dele pude cultivar um estado aparente de segurança que só vim a encontrar verdadeiramente anos mais tarde, mais precisamente quando recebi um novo nome de meu antigo mestre: Universalidade.
Olhando para trás sei que não haveria outra maneira de me fazer despertar do que aquela escolhida por meus pais e que todo sofrimento que passei era fruto apenas de minha incapacidade de enxergar as coisas como elas são, assim como é.
Portanto queridos quando eu digo que cada um de vocês é completo em si mesmo, é porque me direciono ao Ser mais profundo que habita em cada um de nós e em tudo que existe.
Que possamos todos alcançar tal realização.
Atravesso."
Um mês antes de morrer, ela narrou o texto que até hoje pode ser lido na lápide que guarda suas cinzas:
Universalidade
Não-nascida, Não-morta.
Apenas visita esse planeta esporadicamente,
como uma brisa soprada pelo vento,
como uma onda que se extingue nas areias,
como o sorriso de um recém-nascido,
como o último suspiro no leito de morte.
Esse instante, Atravesso.
Poderia ser uma história como qualquer outra, não fosse o fato de que a mãe de Ego e Individualidade só deu a luz a uma criança...
Após 9 meses de espera e carinho eis que o mundo escutava o choro novo de um recém chegado.
Individualidade nasceu forte e saudável, uma menina de quase 3 quilos com um sorriso lindo que encantava a todos.
Seus primeiros anos foram como os de qualquer outra criança, brincando, engatinhando, andando, correndo, encantando os olhos fascinados dos pais corujas.
Por volta dos 4 anos, Individualidade apresentou seu novo irmãozinho à mãe:
- Olha mamãe, o nome dele é Ego! A Dona Cegonha deixou no jardim!
A mãe, que já havia lido sobre crianças e como elas criam amigos imaginários, julgou-se preparada para lidar com a nova situação e incentivou a filha:
- Que lindo! E olha como parece com você, tem o seu sorriso!
No começo tudo era normal, os pais de Individualidade imaginavam que ela criará seu irmão imaginário para ter alguém com quem brincar e dividir os momentos solitários que ficava em casa, enquanto ambos saiam para trabalhar. A mesa do jantar sempre tinha um lugar a mais, com pratos e talheres para Ego se sentar.
E um a um os anos passaram, no entanto a crença de Individualidade em Ego, seu irmão imaginário, se fortalecia mais e mais, ao contrário do que diziam os livros e especialistas.
Ego tornou-se o irmão conselheiro inseparável de Individualidade, era com ele que ela dividia todos seus medos, inseguranças e incertezas, assim como os momentos de felicidade e alegria, não importava onde ou com quem ela estivesse ele estava sempre presente.
Por conta dessa estranha mania os amigos reais de Individualidade se afastavam dela, tinham vergonha ou receio de andar ao lado de uma menina que todos diziam ser maluca. Na escola ela era sempre motivo de piadinhas, “Lá vem a Individualidade e seu amigo Gasparzinho!”, “Olha lá, quem é aquele do lado da Individualidade? Tá precisando tomar um Sol coitadinho, tá até transparente!”.
Preocupados os pais tentaram de tudo para despertá-la de sua ilusão, mas quanto mais falavam e brigavam, mais a ligação entre Individualidade e Ego se fortalecia.
Foi quando em um último ato de desespero, resolveram procurar um expert nos assuntos do mundo e criar uma trama para fazê-la tomar consciência da situação.
- Uma vez que ela perceba que o Ego é algo inventado e mantido apenas por sua imaginação, ela nunca mais se identificará com ele. Assim disse o expert nos assuntos do mundo.
A trama consistia em marcar uma viagem para a praia, aproveitando as férias escolares para juntos compartilharem uma semana em família.
Malas arrumadas, casa fechada, tanque cheio e uma dose tripla de calmante no copo de café com leite de Individualidade.
Após alguns minutos dentro do carro ela adormeceu profundamente e foi deixada pelos pais em um hospital, como mandava o plano.
Passadas algumas horas Individualidade despertou confusa e aturdida, sem imaginar o que havia lhe acontecido.
Instruído pelos pais e a par da situação o médico responsável veio lhe ver e contar sobre o terrível acidente que eles haviam sofrido. Por um milagre seus pais tinham sobrevivido, mas infelizmente seu irmão não tivera a mesma sorte e morreu minutos depois de dar entrada no hospital, com uma parada cardíaca devido à quantidade de sangue que perdera.
Individualidade chorou durante dias, que viraram semanas, que viraram meses, deixou de ir à escola, emagreceu quase 15 quilos e mal saia de casa.
Seus pais arrependeram-se do que fizeram, mas ficaram firmes e não lhe contaram a verdade, sempre apoiados pelo expert nos assuntos do mundo:
- Paciência, haverá um período de choque e confusão, já que ela esteve identificada com o Ego durante muitos anos. Vocês precisam permanecer fortes e confiantes, em breve ela enxergará toda a verdade e a crise acabará como num passe de mágica.
Conforme previsto ela se recuperou totalmente e anos mais tarde, formada e morando sozinha, veio a compreender naturalmente as raízes de sua ilusão e como havia criado e acreditado cegamente nela como na própria realidade.
Percebeu também a estratégia dos pais e os agradeceu por terem levado o plano até o fim sem fraquejar.
Decidiu que chegará à hora de conhecer o homem por trás de tudo e quis conhecer o expert nos assuntos do mundo.
Ao vê-lo notou que ele tinha um olhar brilhante e tranqüilo e a primeira coisa que veio a sua mente foi:
- Você sabe lidar tão bem com as pessoas, do mesmo jeito que sabe lidar com seres imaginários?
- Ambos são apenas frutos da imaginação. Ele respondeu.
Ela continuou:
- Sinto pela sua resposta que o homem capaz de enxergar o imaginário deva conhecer o real.
- Individualidade, da mesma forma digo que alguém que questiona a realidade, faz isto porque já conhece a irrealidade.
- Compreendo o que senhor quer dizer.
- Diga-me Individualidade, em qual realidade baseiam-se seus questionamentos?
Após essa conversa Individualidade tornou-se discípula do expert nos assuntos do mundo e estudou com ele durante anos. No momento de sua morte ela esteve a seu lado e foi ela quem continuou e expandiu seus ensinamentos, unindo a sabedoria dele ao seu coração cuidadoso.
Mas a morte chega para todos e um dia também sorriu para Individualidade. Foi no dia em que abandonou seu corpo que ela narrou o texto abaixo a seus discípulos:
"Naquela época, motivada apenas por uma incessante carência de reconhecimento pessoal e exterior, criei e cultivei o Ego para satisfazer as questões que me preocupavam e incomodavam.
Através dele pude cultivar um estado aparente de segurança que só vim a encontrar verdadeiramente anos mais tarde, mais precisamente quando recebi um novo nome de meu antigo mestre: Universalidade.
Olhando para trás sei que não haveria outra maneira de me fazer despertar do que aquela escolhida por meus pais e que todo sofrimento que passei era fruto apenas de minha incapacidade de enxergar as coisas como elas são, assim como é.
Portanto queridos quando eu digo que cada um de vocês é completo em si mesmo, é porque me direciono ao Ser mais profundo que habita em cada um de nós e em tudo que existe.
Que possamos todos alcançar tal realização.
Atravesso."
Um mês antes de morrer, ela narrou o texto que até hoje pode ser lido na lápide que guarda suas cinzas:
Universalidade
Não-nascida, Não-morta.
Apenas visita esse planeta esporadicamente,
como uma brisa soprada pelo vento,
como uma onda que se extingue nas areias,
como o sorriso de um recém-nascido,
como o último suspiro no leito de morte.
Esse instante, Atravesso.
06/01/2007
Contigo até o talo!
Quando o mundo desmorona é assim mesmo, de uma hora para outra.
Nós é que fixamos morada no barranco com a falsa sensação de calma e segurança que o horizonte traz.
Quão fortes são as fundações que erguemos para esse aparente lar!
Protegemos com dentes e unhas um território clamado, criamos artifícios para atestar sua legalidade, atestar posse e propriedade e esquecemos que a existência não conhece nada sobre contratos e escrituras.
Além das imaginárias linhas divisórias que definem e traçam os limites estende-se o indivisível tapete da vida.
É assim que sem aviso prévio castelos e domínios vem abaixo e com eles surgem incontáveis e passageiras mensagens de pêsames, flores e coroas.
Por mais falsos que soem ninguém economiza nos elogios, um pacto mútuo e silencioso de mediocridade.
Se a vida é um aprendizado a morte é a prova final, somente aqueles que verdadeiramente compreendem a brincadeira por trás dela podem sorrir no momento final.
Final do que?!
Fantasiada com trapos ou brilhantes a matéria se recicla em incontáveis formas, formadas pelos mesmos elementos comuns.
Se são os mesmos elementos comuns como pode haver separação?
Se não existe separação de onde viemos e para onde vamos?
A resposta está na ponta da língua, a um palmo do nariz, na frente dos olhos e em tudo que existe.
A própria dúvida que surge com essa afirmação é a própria constatação da realidade.
Uma dúvida fresquinha formada pelos mesmos elementos comuns para questionar os elementos comuns.
Sim, você é comum! Tão comum como a água que cai das nuvens, tão comum como o esgoto que corre para os rios, tão comum como as ondas que quebram no oceano!
Especialmente comum!
Todas as moléculas e elementos que nos compõe estavam há 15 bilhões de anos atrás no Big Bang.
Todas as moléculas e elementos que nos compõe estavam no caldeirão de vida que se formou na Terra a 5 bilhões de anos atrás.
Todas as moléculas e elementos que nos compõe vivenciaram a glória e a aniquilação dos dinossauros, as conquistas de Roma e a escuridão da Idade Média.
Queimamos e fomos queimados nas fogueiras.
Enforcamos e fomos enforcados.
Nascemos e morremos em inúmeras formas, todos juntos, SEMPRE juntos, sem exceção.
Diz o ditado que a união faz a força, imagine-se unido com o Todo!
Não importa para onde vá, não há escapatória, conexão permanente e sem falhas de transmissão, um canal livre e direto para o sagrado.
O sagrado especialmente comum, que nos rodeia forma e nutre o tempo todo.
Aquele que não termina na morte, nem começa no nascimento.
Abandone a segurança do barranco e mergulhe na incerteza do comum!
Satisfação total ou seu investimento de volta!
Nós é que fixamos morada no barranco com a falsa sensação de calma e segurança que o horizonte traz.
Quão fortes são as fundações que erguemos para esse aparente lar!
Protegemos com dentes e unhas um território clamado, criamos artifícios para atestar sua legalidade, atestar posse e propriedade e esquecemos que a existência não conhece nada sobre contratos e escrituras.
Além das imaginárias linhas divisórias que definem e traçam os limites estende-se o indivisível tapete da vida.
É assim que sem aviso prévio castelos e domínios vem abaixo e com eles surgem incontáveis e passageiras mensagens de pêsames, flores e coroas.
Por mais falsos que soem ninguém economiza nos elogios, um pacto mútuo e silencioso de mediocridade.
Se a vida é um aprendizado a morte é a prova final, somente aqueles que verdadeiramente compreendem a brincadeira por trás dela podem sorrir no momento final.
Final do que?!
Fantasiada com trapos ou brilhantes a matéria se recicla em incontáveis formas, formadas pelos mesmos elementos comuns.
Se são os mesmos elementos comuns como pode haver separação?
Se não existe separação de onde viemos e para onde vamos?
A resposta está na ponta da língua, a um palmo do nariz, na frente dos olhos e em tudo que existe.
A própria dúvida que surge com essa afirmação é a própria constatação da realidade.
Uma dúvida fresquinha formada pelos mesmos elementos comuns para questionar os elementos comuns.
Sim, você é comum! Tão comum como a água que cai das nuvens, tão comum como o esgoto que corre para os rios, tão comum como as ondas que quebram no oceano!
Especialmente comum!
Todas as moléculas e elementos que nos compõe estavam há 15 bilhões de anos atrás no Big Bang.
Todas as moléculas e elementos que nos compõe estavam no caldeirão de vida que se formou na Terra a 5 bilhões de anos atrás.
Todas as moléculas e elementos que nos compõe vivenciaram a glória e a aniquilação dos dinossauros, as conquistas de Roma e a escuridão da Idade Média.
Queimamos e fomos queimados nas fogueiras.
Enforcamos e fomos enforcados.
Nascemos e morremos em inúmeras formas, todos juntos, SEMPRE juntos, sem exceção.
Diz o ditado que a união faz a força, imagine-se unido com o Todo!
Não importa para onde vá, não há escapatória, conexão permanente e sem falhas de transmissão, um canal livre e direto para o sagrado.
O sagrado especialmente comum, que nos rodeia forma e nutre o tempo todo.
Aquele que não termina na morte, nem começa no nascimento.
Abandone a segurança do barranco e mergulhe na incerteza do comum!
Satisfação total ou seu investimento de volta!
03/01/2007
Todo dia é Reveillon !!!
"Pow Pow Pow ! Bum Bum Bum !! Ehhhhhhhhhhhhhh !"
"Champa pra cá, champa pra lá, é a festa dos bêbados, doceiros, baleiros, fumeiros, sniffeiros, hehehe, é isso ae !
Assim como o carnaval, o reveillon é apenas mais um motivo pra todo mundo se largar ao léu da inconsciência coletiva. É engraçado. Escolhemos um dia em especial, depois de 364 dias de ralação pra podermos recarregar toda a esperança, o fôlego, o saco enfim !
Será que realmente é possível ?! Enfim, o ano é novo, mas nós, cada vez mais velhos. Quem precisa ser renovado somos nós não os números (não os anos). E já que o pra sempre, sempre acaba, que tal encararmos o " pra sempre " como o AGORA ? ou será que existe o pra sempre ? ou mesmo o nunca ?
Todo dia é-nos dada a possibilidade, a grande chance de nos encontrarmos e nos libertarmos, todo dia é Reveillon !!!"
"Champa pra cá, champa pra lá, é a festa dos bêbados, doceiros, baleiros, fumeiros, sniffeiros, hehehe, é isso ae !
Assim como o carnaval, o reveillon é apenas mais um motivo pra todo mundo se largar ao léu da inconsciência coletiva. É engraçado. Escolhemos um dia em especial, depois de 364 dias de ralação pra podermos recarregar toda a esperança, o fôlego, o saco enfim !
Será que realmente é possível ?! Enfim, o ano é novo, mas nós, cada vez mais velhos. Quem precisa ser renovado somos nós não os números (não os anos). E já que o pra sempre, sempre acaba, que tal encararmos o " pra sempre " como o AGORA ? ou será que existe o pra sempre ? ou mesmo o nunca ?
Todo dia é-nos dada a possibilidade, a grande chance de nos encontrarmos e nos libertarmos, todo dia é Reveillon !!!"
Assinar:
Postagens (Atom)